Prefeito de Santa Cruz do Sul pode romper com a Corsan
2006-01-17
Ficar horas sem água em dias que o calor chega facilmente aos 40 graus tem se
tornado algo comum para moradores de bairros como Esmeralda e Arroio Grande,
na Zona Sul de Santa Cruz. Para alguns, permanecer sem abastecimento já se
tornou uma desagradável rotina. Mas, entre todos os que são afetados por isso,
o sentimento é um só, unânime: o inconformismo.
O descontentamento com a Corsan no município é geral. E não são só os
usuários. As críticas também partem dos poderes Executivo e Legislativo. Na
Câmara, reclamações sobre a carência dos serviços da companhia são pauta
freqüente. Em recente sessão, os vereadores levantaram vários questionamentos
a respeito das condições de atendimento.
Segundo o vereador Hildo Ney Caspary, do PP, as respostas deram a certeza de
que o trabalho da Corsan na cidade está aquém do que deveria ser feito.
“Simplesmente não estão acompanhando a demanda e o crescimento do município,
tanto no que diz respeito a tratamento de água quanto em distribuição. Se
falta água, é porque já há problema na rede”, frisou.
Entre as informações apuradas estão o número de pontos de abastecimento, que
passou de 20.147 em 1989 para 36.397 no ano passado. Outro dado solicitado
pela Câmara foi o faturamento da companhia, que de 2002 até o mês de junho de
2005 arrecadou R$ 45,7 milhões em Santa Cruz.
Falta agora saber quanto desse dinheiro foi aplicado em obras e melhorias na
rede do município. Em 2002, conforme informação do Ministério Público apurada
em 2004, a Corsan faturou R$ 11 milhões, contra R$ 5 milhões que foram gastos.
Do total faturado, R$ 4 milhões foram para o bolo geral das arrecadações da
companhia no Estado, sob a rubrica de rateio de despesas. Ou seja, o que foi
ganho em Santa Cruz pode ter sido aplicado em obras de outras cidades.
“Estamos cobrando mais investimentos aqui. Não existe mais a desculpa de que
o problema era o Rio Pardinho. O Lago Dourado está aí, com água no limite. Se
não melhorar, vamos pedir o rompimento do contrato da Prefeitura com a
Corsan”, afirmou Caspary.
Outra hipótese levantada pela Câmara caso a estatal não cumpra com as
obrigações de forma eficiente é a municipalização dos serviços de tratamento
e abastecimento de água. Para o vereador Ari Thessing (PT), no entanto, com a
situação da rede hídrica atual, isso não seria possível. “Não adianta comprar
um problema e depois não conseguir solucioná-lo.”
Na opinião dele, toda a canalização de Santa Cruz deveria passar por uma
reformulação. “É uma rede primitiva, que precisa passar por reforma. Se não
fizerem o investimento, boa parte da água será perdida nos vazamentos.”
Segundo Thessing, pelos recursos que arrecada, a Corsan teria totais condições
de executar a manutenção do sistema. “O faturamento é alto, mas, infelizmente,
pouco retorna para investimento.” (Gazeta do Sul, 17/1)