James Lovelock alerta que "febre de Gaia" matará bilhões
2006-01-17
As alterações climáticas matarão bilhões de pessoas neste século à medida que a temperatura da Terra aumentar, entrando em uma fase de "febre" da qual o planeta pode levar 100.000 anos para se recuperar, disse James Lovelock, o cientista que propôs a teoria de "Gaia".
As temperaturas de regiões de clima temperado, como a Europa e os Estados Unidos, dispararão 8 graus Celsius neste século e as temperaturas dos países tropicais subirão 5 graus Celsius em decorrência das emissões de gases geradas pelo homem, escreveu o cientista Lovelock no jornal britânico The Independent.
"Provocamos uma febre em Gaia (a Terra) e, em breve, sua condição piorará, passando a um estado semelhante ao de coma", escreveu Lovelock. "A Terra já passou por isso e se recuperou, mas levou mais de 100.000 anos. Somos responsáveis por isso e sofreremos as conseqüências."
A teoria de Gaia de Lovelock, lançada na década de 1970, prega que Terra se comporta como um organismo auto-sustentável dotado de um sistema de controle responsável pela manutenção das condições ambientais propícias à vida. Ao tentar assumir o controle dos ajustes climáticos do planeta, os seres humanos estão condenados ao "pior tipo de escravidão" e em breve verão que é impossível manter a Terra em condições de abrigar seres vivos, disse Lovelock.
"Grande parte da massa de terras tropicais será coberta apenas por arbustos ou se transformará em um deserto - e não mais servirá para regular o clima", afirmou. "Isso se soma à parcela de 40% da superfície terrestre que exaurimos para nos alimentar", completou ele. Ainda de acordo com o cientista, "antes que este século termine, bilhões de nós morrerão e os poucos casais em idade reprodutiva que sobrarem viverão no Ártico, onde o clima permanecerá tolerável."
Temperaturas de 2005
O ano passado foi o segundo mais quente da história, segundo dados preliminares divulgados 15 de dezembro passado pelo Met Office britânico, órgão governamental que monitora o clima mundial. Todos os anos da última década - com exceção de 1996 - estão entre os dez anos mais quentes da história, de acordo informações do Hadley Center, do Met Office.
A temperatura média dos mares e do solo registrada entre os meses de janeiro e novembro do ano passado foi 0,48 grau Celsius superior à média das temperaturas registradas no período de três décadas que vai de 1961 a 1990, segundo informou o Hadley Center. O centro não forneceu a temperatura-base para a comparação e disse que os números finais estarão disponíveis em fevereiro próximo.
O aquecimento global gerado pela ação do homem é a principal causa do aumento do nível do mar, do derretimento das calotas polares e da maior instabilidade dos padrões climáticos, disseram cientistas em uma conferência realizada no ano passado em Exeter, no sudeste da Inglaterra, onde está sediado o Met Office.
Nem todos os cientistas e políticos apóiam a teoria de que os padrões climáticos do planeta estão mudando em decorrência da atividade humana. O governo do presidente norte-americano George W. Bush disse que não há provas de que o aquecimento global está gerando alterações climáticas.
De acordo com o cientista Lovelock, com a resistência dos Estados Unidos e de economias emergentes como as da China e da Índia em reduzir as emissões dos chamados gases causadores do efeito estufa - que impedem a dispersão do calor do Sol da atmosfera terrestre -, "ocorrerá o pior e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal". (Bloomberg News /Gazeta Mercantil, 17/01/06)