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2006-01-17
Com três milhões de hectares de terras indígenas e uma população extrativista (de índios, seringueiros e pequenos agricultores) de mais de 5 mil pessoas, uma das áreas mais importantes da Floresta Amazônica - o noroeste do Mato Grosso - sofre com a exploração do garimpo, da madeira e da pecuária. Essa pressão gera conflitos, muitas vezes armados, entre os membros das comunidades, que se vêem divididos entre obter renda com as atividades exploratórias ou preservar a biodiversidade.

Para tentar resolver a situação, o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a FEMA - Federação Estadual de Meio Ambiente, com financiamento do GEF - Fundo para o Meio Ambiente Mundial, integraram essas terras protegidas a um plano de gestão ambiental que usa como base uma velha conhecida da população local: a castanha-do-Brasil. A iniciativa dobrou a produção castanheira das duas primeiras comunidades onde foi instalada e melhorou a qualidade do produto. Em 2006, espera-se uma safra ainda maior.

A castanha tem duas características importantes nesse contexto, segundo o antropólogo Gilton Mendes, assessor do Programa Integrado da Castanha. A primeira é que os habitantes da região já a exploram há séculos. “Não é preciso ensinar ninguém a trabalhar com castanha, eles já conhecem a técnica. Nosso único trabalho é melhorá-la”, afirma. A segunda é que a exploração da semente é feita sem derrubar a mata.

O programa começou a ser implementado em 2003, em duas tribos, a dos rikbaktsas (com mais de 1.300 moradores) e a dos zorós (com mais de 500). Na safra seguinte ao início do programa (de 2003/2004), a produção em ambas as comunidades dobrou - entre os rikbaktsas, de 20 para 40 toneladas e entre os zorós, de 30 para 60 toneladas. Na safra de 2004/2005, aumentou ainda mais: para 55 toneladas entre os rikbaktsas e para 80 entre os zorós. Neste ano, a previsão é que a produção aumente ainda mais, para 70 toneladas e 100 toneladas, respectivamente.

A quantidade, no entanto, não foi o único aspecto que melhorou na produção castanheira nesses grupos, segundo Mendes. O apoio do programa resultou também em mais qualidade. “Muitas vezes, eles dominavam totalmente a técnica de produção, mas não tinham muita noção de algumas exigências do mercado, como qualidade, freqüência de fornecimento, preço e aspectos fitossanitários”, afirma. Assim, o preço da semente passou de R$ 0,40 em 2003 para R$ 1,80 no final de 2005.

Mas o trabalho não se limitou à castanha: inclui também óleo da copaíba, látex e babaçu. “Ninguém vai na floresta só para colher castanha. Eles exploram também outros artigos florestais, e nós ajudamos. A castanha acabou se tornando apenas o fio condutor do projeto”, afirma Mendes.

O projeto teve grande impacto na economia dessas comunidades, segundo o antropólogo. “Hoje eles produzem muito mais e recebem muito mais por cada unidade vendida”, declara. A melhoria na produção levou as castanhas do noroeste do Mato Grosso a mercados distantes, como São Paulo, e obrigou os moradores a construírem armazéns para estocagem.

Com mais dinheiro entrando, a procura de renda por meio do garimpo e da derrubada de árvores arrefeceu. Muitos índios que haviam deixado a tribo para trabalhar nas cidades e nas fazendas voltaram para casa.

O sucesso do projeto levou o grupo que o organiza a ampliá-lo. Neste ano, integrarão a iniciativa a tribo dos araras, além dos seringueiros da reserva extrativista de Guariba e Roosevelt e dos agricultores do assentamento Vale do Amanhecer. Até o final de 2006, espera-se também que outros três povos, dos cinta-largas, suruís e enawene-nawes estejam participando - o que completa todas as comunidades do noroeste do Mato Grosso.
((nformações de PrimaPagina/PNUD)

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