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2006-01-17
Milhares de metros cúbicos de madeira de lei estão sendo retirados ilegalmente de áreas dos municípios de Itaituba, Aveiro e Juruti, no Oeste do Pará, por grileiros do Estado do Amazonas. A denúncia foi feita por um comandante de embarcação que esteve na área onde a madeira está sendo explorada. O comandante, que pediu para não ter a identidade revelada, disse a O LIBERAL que a madeira é retirada por água, para o Estado do Amazonas, onde é “esquentada” com documentos fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) daquele Estado.

A área onde a madeira está sendo retirada às escondidas, sem qualquer plano de manejo sustentável, está localizada na região de entre o Pará e o Amazonas, uma área de difícil acesso, por trás dos municípios paraenses, especialmente o de Aveiro. A única via de acesso à região é o Paraná do Ramos, cuja foz fica ao lado da Vila Amazônia, no município amazonense de Parintins. É por aquele canal que as embarcações entram e saem com as madeiras que são serradas em serrarias improvisadas no meio da mata. Os grileiros retiram principalmente o Ipê, uma espécie de madeira muito valorizada no mercado internacional, que já sai do Pará beneficiado para a exportação.

A denúncia foi reforçada por moradores da região dos rios Maumuru, em Juruti, e Catauare, em Aveiro e Itaituba. Eles estiveram em Santarém e denunciaram o desmatamento na região. Segundo os moradores, a devastação na área também foi denunciada ao Ibama de Parintins, mas os fiscais do órgão não teriam dado a importância que o assunto merece. Exemplo disso é que uma balsa carregando maquinários foi flagrada por um helicóptero do Ibama navegando em direção à área devastada, mas a aeronave sequer pousou para verificar o motivo da balsa estar transportando os maquinários pesados.

Segundo um agricultor, que tem medo de represálias por parte dos grileiros, homens armados vigiam a região dia e noite. “Enormes áreas estão sendo desmatadas e até pista de pouso está sendo construída, enquanto nós queremos fazer os nossos roçados para plantarmos a nossa roça e não podemos”, disse o agricultor. Os moradores da região ainda afirmaram que muitos dos homens que trabalham na área explorada são paraguaios.

Corrupção - Para explorar ilegalmente a madeira no Pará e vendê-la no Amazonas, os grileiros estariam se utilizado de um esquema de corrupção, uma vez que toda a madeira já está saindo do local com as Autorizações Para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), um documento que só é expedido pelo Ibama. As ATPFs só valem para o Estado do Amazonas, mas a falta de fiscalização no Pará facilita o transporte através de pequenos rios até o rio Amazonas, seguindo depois até a cidade de Parintins. De lá a madeira é enviada ao porto de Itacoatiara, de onde sai do país em grandes navios.

Todo o transporte da madeira é feito em embarcações, pois não há acesso por estradas até a área de exploração, que fica há cerca de 20 minutos de avião partindo da cidade paraense de Itaituba. Segundo uma testemunha, os grileiros afundam pacotes de madeira nas margens dos rios para a fiscalização não desconfiar. Quando as balsas chegam, mergulhadores retiram a madeira da água e carregam as balsas, que navegam à noite para dificultar o flagrante de crime ambiental.
(O Liberal-PA, 16/01)

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