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2006-01-17
Ambientalistas e produtores rurais discordam quanto ao nível dos impactos ambientais negativos que a monocultura da soja tem provocado no Brasil desde a sua chegada, no Rio Grande do Sul, em 1914. Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Speroto, houve impactos, tanto que foi preciso fazer um intenso trabalho de recuperação das matas e rios depois de alguns anos de plantio. O assunto é o tema desta segunda-feira (16) do especial "Soja, um grande negócio", que a Rádio Nacional transmite.

A discussão em torno do impacto ambiental da monocultura da soja se agravou com o início do cultivo nas regiões do cerrado brasileiro, a partir do final dos anos 80. Segundo o cientista Charles Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o agronegócio da soja acabou com o cerrado "sem saber o valor de sua biodiversidade e este foi um dos grandes crimes dos últimos vinte anos".

A legislação ambiental é outro fator a prejudicar o cerrado, com proteção maior a áreas de floresta, de acordo com os especialistas ouvidos no rádio-documentário. De acordo com a lei em vigor, o produtor rural pode usar uma área três vezes maior, se for no cerrado, do que na floresta, onde quase 80% da propriedade precisam ser colocadas como área de proteção ambiental, e não podem por isso ser destinadas ao uso agrícola.

Apesar da proteção legal, o avanço da cultura da soja na Amazônia, a partir do Mato Grosso, é outra preocupação dos ambientalistas. A trajetória seguida até agora não tem sido das melhores, segundo o diretor do Instituto Emílio Goeldi, do Ministério da Ciência e Tecnologia, Peter de Toledo. Ele garante que está muito preocupado porque tem observado "bolsões na Amazônia que estão sendo desmatados devido à agregação que a soja está trazendo para a economia local". Ele acha que isto provocará "um problema profundo".

A presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Leide Aquino, que reúne mais de 500 organizações não-governamentais (ONGs) e associações ambientalistas, também participa do episódio "Impactos Sociais" no documentário "Soja, um grande negócio". Ela é radicalmente contrária à chegada do cultivo da soja na Amazônia, embora já tenha se firmado em Mato Grosso, Rondônia e Roraima, por considerar que não é esta a sustentabilidade que defende para a região.

Outro a acompanhar com atenção os impactos ambientais provocados pela monocultura da soja por onde ela tem passado é o coordenador do Instituto Socioambiental (ISA), André Lima. Ele diz que não pode aceitar a conversão de áreas de "ecossistemas ricos em biodiversidade" em monocultura de soja que, segundo ele, "visa somente o ganho imediato sem qualquer análise da importância dessas áreas de floresta e de cerrado que estão sendo perdidas".

Produtores de soja garantem que defendem o meio ambiente
O secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, rebateu as críticas feitas por ambientalistas ouvidos na série de reportagens especiais "Soja, um grande negócio", de que a monocultura provoca impactos ambientais e que avança agora para a floresta amazônica. O documentário está sendo veiculado na programação da Rádio Nacional (Brasília, Rio e Amazônia) a partir desta segunda-feira (16) e o áudio está disponível na Agência Brasil.

De acordo com Fábio Trigueirinho, os produtores brasileiros de soja passaram por um longo "processo de aprendizagem" e, por isso, não repetem mais os erros cometidos quando começaram no Rio Grande do Sul. Ele assegura que os produtores estão hoje "num estágio de bastante integração com o meio ambiente" e que existe "consenso nos aspectos da conservação do solo" lembrando ainda que ele é "o maior bem onde o produtor tem que investir pesado na correção antes dos primeiros plantios".

O secretário da Abiove advertiu os ambientalistas para que também busquem o que classificou de "equilíbrio" entre os três pilares que sustentam a produção de soja no Brasil. Segundo ele, é preciso manter os aspectos "sociais, econômicos e ambientais" que a soja proporciona. Ele citou os US$ 10 bilhões que o complexo soja (farelo, óleo e grãos) trouxe para o Brasil, no ano passado, transformando o país no maior exportador mundial e no segundo produtor, atrás dos Estados Unidos.

Sobre o avanço da soja em direção à floresta amazônica, Fábio Trigueirinho rebateu as acusações dizendo que "não correspondem à realidade", mas aceitou que existem "casos isolados, em escala relativamente pequena, de plantio de soja em áreas de floresta". Ele citou dados do governo que garantem que a cultura da soja ocupa apenas 1,2% da área da Amazônia Legal, formada por nove estados. Lembrou que 30% da área amazônica são de cerrado, onde ele defendeu o aumento do plantio de soja e outros produtos agrícolas.

O secretário-geral da Abiove rebateu também a crítica de que os produtores de soja não teriam interesse em comprar terras e por isso estariam usando os pecuaristas na Amazônia para seguirem na frente, devastando a floresta. Ele explicou que o produtor de soja precisa investir pesado na correção do solo e por isso não interessa a ele, por exemplo, comprar terras na Amazônia onde, segundo afirmou, "mais de 50% não tem documentação de propriedade". Por isso, ele aconselha uma ocupação "racional" na região a fim de se evitar “muita ocupação desenfreada".
(Radiobras, 16/01)

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