Pesquisa vai buscar novos usos para o fumo
2006-01-17
O uso do fumo como matéria-prima para a indústria química e farmacêutica será
o foco de um estudo desenvolvido pela Universidade de Santa Cruz do Sul
(Unisc) em parceria com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra),
Embrapa e universidades européias. A proposta surgiu a partir das palestras
apresentadas pelo pesquisador espanhol Fernando Ponz, doutor em Ciências
Químicas e coordenador de pesquisas na área da biotecnologia, vinculado ao
Instituto Nacional de Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria, de
Madri. Ele esteve em Santa Cruz na semana passada e ministrou palestras nas
quais explicou como o fumo pode ser aplicado na indústria, não apenas para a
produção de cigarros.
A partir de estudos realizados em parceria com outros pesquisadores de
universidades espanholas, Ponz, afirma haver condições de usar o tabaco para a extração de componentes para fabricação de remédios, cosméticos, solventes e enzimas para a produção de combustíveis, dentre eles o biodiesel. A medicina veterinária também pode ser beneficiada com as novas tecnologias. O cientista revelou ainda que alguns desses subprodutos do tabaco já podem ser encontrados no mercado. Entretanto, ele não trouxe amostras.
Depois de conhecer de forma detalhada os estudos de Ponz, a reitoria da Unisc se propôs a desenvolver projetos destinados à diversificação das aplicações do principal produto agrícolda do Vale do Rio Pardo. Ainda durante o primeiro semestre, de acordo com o reitor Luiz Augusto Costa a Campis, devem ser desenvolvidos os primeiros trabalhos com a intenção de usar o fumo como base para a fabricação de outros produtos. O primeiro passo será organizar os parceiros para o projeto e partir para a análise da viabilidade econômica que ele possui.
O objetivo do trabalho, ressaltou o reitor, é propor a diversificação produtiva. Embora a Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, ratificada pelo governo federal em setembro do ano passado, possa representar um risco para a cultura, a longo prazo, disse ele, o estudo tem como proposta agregar valor ao fumo. “A Convenção pode ser um risco, mas o que buscamos são novas alternativas”, explicou ressaltando que os resultados não devem ser imediatos.
Onde o tabaco é usado
Fabricação de remédios – as proteínas do tabaco podem ser aplicadas pela
indústria farmacêutica na extração de base para a produção de hormônios de
crescimento, insulinas, enzimas e colágenos.
Medicina veterinária – substâncias extraídas da industrialização do tabaco também podem servir para fabricar vacinas e anticorpos.
Indústria de celulose – a partir do processo de beneficiamento em laboratório,
pesquisadores europeus também conseguiram retirar fibras que serviram para a
fabricação de papel.
Combustíveis – elementos extraídos do fumo também podem servir para o beneficiamento de biocombustíveis.
Parcerias –
Além de pesquisadores da Unisc, representantes de órgãos governamentais, fumageiras e prefeituras da região também assistiram às explicações do professor espanhol. Ele, que foi convidado pela universidade santa-cruzense, defende o uso das novas tecnologias e se propõe a firmar parcerias com as instituições brasileiras para aprimorar os trabalhos. Dentre os colaboradores, segundo o pró-reitor de Planejamento, João Pedro Schmidt, estaria a Afubra. A partir dos estudos de viabilidade, segundo ele, será possível avaliar os custos do projeto. Esse foi o primeiro contato dos brasileiros com o tema. “Agora precisamos trabalhar em busca de novos parceiros”, disse. (Gazeta do Sul, 16/1)