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2006-01-16
O Brasil entrará para um seleto clube que agora terá nove países detendo a tecnologia e a produção em escala industrial do urânio enriquecido, combustível para as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2. No dia 20/01 está prevista a inauguração da fábrica de enriquecimento de urânio, construída em Resende, no Rio, pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) - estatal responsável pela produção do combustível - e com tecnologia da Marinha.

O presidente da INB, Roberto Garcia Esteves, destacou que o país agora é, na prática, auto-suficiente no domínio da tecnologia do setor nuclear. Na produção do combustível nuclear, a fase do enriquecimento é a mais estratégica - e praticamente a única que não era feita no país.

Agora, apenas a etapa de transformar o concentrado de urânio, o yellow cake (pó amarelo), em gás é realizada no Exterior, por não ser economicamente viável ter uma usina no país.

Presença de Lula ainda não está confirmada
No complexo industrial da INB em Resende estão também as fábricas das outras etapas de fabricação do combustível nuclear. Apesar de anunciada, a assessoria do Palácio do Planalto informou que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração da fábrica de enriquecimento de urânio é apenas uma previsão e não foi confirmada por questões de agenda. No dia 20, do Rio Lula segue para o Acre, onde tem eventos no sábado. Fontes do setor informaram, no entanto, que devido às pressões que o Irã tem sofrido dos EUA e da União Européia contra o desenvolvimento do enriquecimento do urânio naquele país, o governo poderia tomar a decisão política de adiar a inauguração.

- O enriquecimento é uma tecnologia sofisticada e muito restrita, porque pode ser diversificada para armamentos - explicou Esteves.

A nova fábrica tem provocado muitas críticas. O deputado Carlos Minc (PT-RJ) classifica a construção como um erro. Segundo o parlamentar, não faz sentido o Brasil persistir no erro depois de tantos prejuízos com seu programa nuclear:

- É uma energia mais cara do que outras que temos no Brasil, como a solar, a eólica e a biomassa. Além disso existem sérios problemas de segurança e de destino do lixo atômico. Muitos países estão abandonando seus programas.-

- Não sou contra energia nuclear, discordo de como o programa foi feito. Mas já que o país tem um programa de geração de energia elétrica com usinas nucleares, é importante dominar o enriquecimento-, afirmou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Luiz Pinguelli Rosa.

Na usina de Resende, a Marinha vai instalar as cascatas (conjuntos de máquinas) de ultracentrífugas de forma gradual. O projeto prevê a colocação de 16 cascatas até 2010, para chegar à produção de 114 mil unidades de trabalho separativo (UTS, medida usada para o urânio). O volume é considerado suficiente para atender a 60% das necessidades de Angra 1 e 2.

O presidente da INB explicou que para atingir essa etapa serão necessários investimentos de US$ 400 milhões. Desse total, já foram gastos cerca de US$ 100 milhões.
(ZH, 15/01)

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