Internações por asma e hipertensão aumentam durante a queima da cana-de-açúcar
2006-01-16
Pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da USP constataram que a queima da cana-de-açúcar na região de Araraquara (interior de São Paulo) provoca um aumento no número de internações por asma e hipertensão arterial na cidade. "A concentração de material particulado em suspensão durante o período da queima da cana é quase o dobro em relação ao período da não-queima", conta o médico Marcos Abdo Arbex, um dos autores do estudo.
Segundo Arbex, a queima da cana, que acontece entre os meses de abril e novembro, provoca a emissão de uma espécie de fuligem, composta por 90% a 95 % de partículas finas ou ultrafinas, que não são visíveis a olho nu. "Quando inaladas, essas partículas atingem os alvéolos pulmonares e a corrente sanguínea provocando uma resposta inflamatória com repercussão sobre o sistema respiratório e cardiovascular", explica o médico.
O estudo demonstrou que é maior o número de internações durante o período de queima da cana-de-açúcar. No caso da hipertensão, esse número é de 2,82 internações por dia, contra 1,92 na não-queima. Para os casos de asma são 1,43 e 0,95, respectivamente.
O médico afirma que para cada aumento de 10 microgramas de material particulado, há também um aumento de 5,67% nas internações por hipertensão e 5,05% por asma. Segundo Arbex, tanto a população urbana como a rural ficam igualmente afetadas pela exposição a uma alta concentração do poluente.
Arbex conta que estudos prévios do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da FM e outros centros de pesquisas internacionais já haviam mostrado a relação entre queima de biomassa e aumento de atendimento em emergências médicas e hospitalização por causas respiratórias.
"Este, entretanto, é o primeiro estudo na literatura mundial que mostra os efeitos adversos causados pela poluição atmosférica proveniente da queima deste tipo específico de biomassa (cana-de-açúcar) sobre o sistema cardiocirculatório", diz.
Medição do ar - A medição do material particulado aconteceu por meio de um aparelho chamado Hand-Vol, que foi colocado no centro da cidade, durante 494 dias, entre 23 de março de 2003 e 27 de julho de 2004. Os dados das internações foram retirados do Hospital São Paulo, em Araraquara, no mesmo período.
O Hand-Vol aspira o ar e retém as partículas em suspensão por meio de um filtro, que foi trocado diariamente. A medição do material era feita a cada 24 horas e os dados eram colocados em um computador que mostrava a concentração de material particulado em miligramas por litro.
A pesquisa, realizada no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Departamento de Patologia da FMUSP, teve a participaram dos pesquisadores Lourdes Conceição Martins, Regiane Carvalho de Oliveira, Flávio Ferlin Arbex, José Eduardo Delfini Cançado, Luis Alberto Amador Pereira, Paulo Hilário do Nascimento Saldiva, e Alfésio Luis Ferreira Braga.
O estudo foi apresentado no Congresso da American Thoracic Society, que aconteceu em maio de 2005 em San Diego, nos Estados Unidos, e recebeu o prêmio de melhor tema livre durante o XI Congresso Paulista de Tisiologia e Pneumologia, realizado no último mês de novembro, em São Paulo.
(Agência USP, 15/01)