Países poluidores querem energias limpas, mas com crescimento econômico
2006-01-16
Estados Unidos, Austrália, China, Índia, Japão e Coréia do Sul, reunidos semana passada em Sydney para discutir alternativas ao Protocolo de Kyoto, criaram um fundo para o desenvolvimento de energias limpas. EUA e Austrália, organizadores da reunião, se comprometeram a investir U$ 170 milhões em programas energéticos que respeitem o meio ambiente e sejam dirigidos a reduzir a poluição global.
Os seis países representam 45% da população mundial e são grandes responsáveis pelo agravamento do efeito estufa: Austrália é o segundo produtor de carvão do mundo e produz mais gás carbônico por habitante que qualquer outro país. Já os EUA, é o maior poluidor do planeta, respondendo por mais de 25% das emissões de dióxido de carbono (CO2).
Ambos se recusaram a ratificar o Protocolo de Kyoto – acordo pelo qual os países signatários são obrigados a reduzir em 5% a emissão de gases até 2012, com base no nos níveis de poluição registrados em 1990. Quem não consegue atingir a meta, tem a opção de comprar créditos de carbono – gerados a partir de projetos de MDL - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo em países em desenvolvimento.
No comunicado final da reunião, os membros da Cúpula AP6 afirmam que não reduzirão o uso dos combustíveis fósseis e prevêem um aumento da utilização da energia nuclear. O texto apostou também em um maior peso das energias renováveis e a direta implicação dos países no desenvolvimento de projetos não-poluentes. A idéia é trabalhar para a erradicação do efeito estufa, mas sem que isso seja um obstáculo ao crescimento econômico. "Os países têm a responsabilidade de trabalhar para cortar as emissões de gases causadoras do efeito estufa e ao mesmo tempo a de manter o crescimento econômico", disse John Howard, o primeiro-ministro da Austrália, no encerramento da conferência.
Deveres
Os representantes reunidos em Sydney, também defendem que o setor privado, e não os governos, deve assumir a liderança na luta contra o aquecimento global. "Chegou a hora do setor privado assumir a liderança da luta contra a emissão de gases que provocam o efeito estufa", disse o ministro australiano da Energia, Ian MacFarlane, durante a reunião. "O setor privado, as empresas, os proprietários de infra-estruturas terão finalmente de resolver o problema", continuou o secretário de Estado americano para a Energia, Samuel Bodman.
"Todos os países membros querem que suas economias continuem crescendo. Mas todos têm responsabilidades ecológicas que também desejam assumir. O maior desafio consistirá em trabalhar com o setor privado e não somente com os governos", declarou o ministro australiano das Relações Exteriores, Alexander Downer.
Disfarce
As conclusões da Cúpula AP6 foram fortemente criticadas por organizações ecologistas como Greenpeace e Amigos da Terra, que acusaram os participantes de utilizá-la como um pretexto para assegurar o mercado de carvão da Ásia. "Acho que de fato esta conferência serve para proteger o futuro a longo prazo da indústria do carvão", disse no final da cúpula Clive Hamilton, diretor do Instituto da Austrália. Hamilton acrescentou que a Conferência fez muito pouco para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa ou para impulsionar o trabalho do Protocolo de Kyoto. (CarbonoBrasil, 13/01/06)