Projeto pode despoluir o rio Papaquara, em Florianópolis
2006-01-13
A criação de robalos em viveiros e tanques-rede pode ser um importante aliado na despoluição do rio Papaquara, no Norte da Ilha. A idéia foi encaminhada pelo geógrafo José Luiz Sardá à direção do Sapiens Parque e pode sair do papel nos próximos meses. "Na licença ambiental do empreendimento existe o compromisso com a revitalização desse e de outros cursos d´água na região", explica Sardá.
O chamado Projeto Robalo surgiu de discussões da diretoria da recém-criada Associação de Pescadores de Canasvieiras, já que a situação do curso d´água não impede que os peixes sobrevivam. "Os robalos capturados pelos pescadores chegam a ter até três quilos", garante. "A introdução do sistema de armazenamento e engorda em tanques-rede é um mecanismo regulador da oferta e valorização do produto, além de minimizar os custos de transporte e conservação."
O uso de tanques elimina a necessidade do uso de gelo e outros custos, como o de armazenamento, "evitando que o produto dos pescadores estrague antes de chegar aos pontos-de-venda". O tanques permitem que os restaurantes "tenham certeza de estar comprando um produto de melhor qualidade, mais fresco, enquanto o pescador poderá obter um melhor preço por seu produto".
Outra vantagem do projeto é que pode "evitar a extinção do robalo e repovoar a região, contribuindo para a melhoria da qualidade da espécie na baía de Canasvieiras e Norte da Ilha de Santa Catarina". Antes do início da criação, serão necessários estudos "para levantar fatores bioecológicos do robalo no rio Papaquara", salienta Sardá, além da recuperação do curso.
"Isso inclui a reposição da vegetação das margens, o monitoramento e controle da bacia, principalmente as nascentes e encostas, mais a despoluição e desassoreamento, com a finalidade de implantar programas de visitação", assinala o geógrafo. "O trabalho no Papaquara poderá se integrar com a unidade de conservação a ser criada pelo Sapiens Parque e o corredor ecológico que une a região à Estação Ecológica de Carijós."
Curso d´água é afluente do rio Ratones
O rio Papaquara nasce dos morros da Vargem do Bom Jesus, passa pelo centro do antigo horto florestal e colônia penal agrícola (área do Sapiens Parque), atravessa a rodovia SC-401 e desemboca no rio Ratones, coração da Estação Ecológica de Carijós. Desse ponto, os poluentes seguem para as proximidades da praia da Daniela, ameaçando os manguezais de Ratones e Saco Grande.
Ao longo do curso existem oficinas mecânicas, residências e condomínios que têm contribuído com a degradação, aliado aos esgotos dos loteamentos do Quido e Lili, a localidade de Canto do Lamim e as servidões da Caixa d´água, Braulina Machado, Papaquara e Ernani de Souza, lançados no rio, processo intensificado nos últimos dez anos. A rede de coleta e tratamento de esgotos de Canasvieiras não alcança essas regiões, onde o lençol freático alto não permite a instalação de fossas sépticas.
Por outro lado, o rio do Brás, afluente do Papaquara, provoca ainda mais a contaminação, principalmente em períodos prolongados de chuvas. O lixo é outro problema, sendo grande a quantidade de dejetos como sacos de lixo, restos de corte e poda de vegetação e de materiais usados na construção civil, lançados no curso ou nas suas margens.
"O que não é lançado diretamente no rio chega até ele através de afluentes e canais artificiais que desembocam no curso principal, como o que existe ao lado da rodovia Francisco Germano da Costa", salienta Sardá, também intendente de Canasvieiras. "É comum e freqüente ver moradores pescando no rio diversas espécies de peixes como tanhotas, carpas, robalos, traíras e siris, servindo como alternativa de alimentos para suas famílias", complementa. (A Notícia, 13/01)