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2006-01-13
Estudo sobre o cultivo de transgênicos do ISAAA, entidade financiada por Monsanto, Syngenta e Bayer, entre outras, ignora também o aumento das moratórias aos transgênicos em vários continentes e a perda de produtividade de agricultores

O panorama cor-de-rosa a respeito dos transgênicos que o ISAAA (sigla em inglês para Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agrobiotecnológicas) tenta mostrar em seu último relatório sobre transgênicos não tem a menor correspondência com a realidade que esse tipo de cultivo vivencia hoje. O estudo indica um crescimento da área plantada de transgênicos em todo o mundo, especialmente o Brasil, e credita esse aumento à “confiança de milhões de fazendeiros na biotecnologia”. Vale lembrar que o ISAAA é uma entidade financiada por empresas como Monsanto, Syngenta e Bayer.

O documento do ISAAAA falta com a verdade ao ignorar a maciça oposição que os transgênicos enfrentam em todos os continentes, seja entre agricultores, consumidores ou governos nacionais e locais. A indústria alimentícia e o setor de varejo, por exemplo, deram forte sinalização em 2005 de que não estão dispostos a colocar em risco sua imagem e utilizar ingredientes transgênicos que são rejeitados pelos consumidores. No Brasil, o trabalho do Greenpeace mostra que é cada vez maior o número de empresas que rejeitam transgênicos. Em 2005, nomes de peso como Danone, Wal-Mart e Bauducco baniram o uso de transgênicos em seus produtos.

Em relação à produção da soja no campo, segundo as projeções da produtividade de soja pela Conab, no Rio Grande do Sul, onde praticamente 98% da produção de soja é transgênica, a produtividade do plantio de soja será de 1.980 kg/ha para a safra de 2005/2006. No Paraná, onde o cultivo de soja transgênica é inexpressivo, a produtividade será de 2.870 Kg/ha para o mesmo período. Os dados mostram que a soja transgênica não será capaz de manter os mesmos níveis produtivos esperados para a soja convencional.

Internacionalmente, 2005 também acumulou uma seqüência inédita de moratórias a sementes geneticamente modificadas, começando com a Polônia, em março, que baniu o milho Bt da Monsanto, e terminando com a Suíça, em novembro. Nos países em desenvolvimento, o cenário não foi diferente. A Kraft Foods na China declarou em dezembro que vai banir de todos os seus produtos para o mercado chinês ingredientes transgênicos a partir de 2007.

“O relatório do ISAAA infelizmente adotou mais uma vez a imparcialidade e a falta de compromisso com a verdade, respondendo apenas aos anseios da indústria de biotecnologia e às multinacionais produtoras de sementes geneticamente modificadas”, afirma Gabriela Couto, bióloga, Coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace. “Com isso, tenta desesperadamente fazer do cultivo transgênico a imagem da pedra de salvação dos agricultores pobres e da solução para a fome no mundo.”

O relatório não menciona que os tipos de transgênicos criados e comercializados no mundo são apenas dois: resistente a agrotóxicos (tipo RR) e resistente a insetos (tipo Bt). Estudo de Charles Benbrook do ano passado mostra que as culturas transgênicas utilizam mais agrotóxicos do que as culturas tradicionais, com incremento do uso de pesticidas de 16,4% no ano de 2004. As variedades Bt mostraram-se extremamente danosas à vida silvestre, eliminando insetos fundamentais no controle biológico da cadeia alimentar.

“O discurso usado pelo ISAAA e pela indústria de biotecnologia de que a nova tecnologia traria produtos com mais nutrientes do que as variedades tradicionais, voltados para produção de fármacos em plantas e com menor dano ao meio ambiente, são apenas falsas promessas que vêm se repetindo há 30 anos”, completou Gabriela. (Greenpeace Brasil, 12/01)

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