Família luta para adotar bugio em Rio Pardo
2006-01-12
Ele tem apenas dois anos e meio, mas já vai sozinho ao banheiro, come com
talheres e adora andar de triciclo. Juca, como foi batizado o bugio-ruivo,
agora corre o risco de ficar sem o lar onde se criou.
O animal é alvo de dois processos que tramitam no Ministério Público de Rio
Pardo e na Justiça Federal de Santa Cruz do Sul. No primeiro, a dona de casa
Enara Rejane Lopes de Oliveira é acusada de crime ambiental. No segundo, ela
luta para permanecer com o primata.
Juca foi encontrado à beira de uma estrada com cerca de duas semanas de vida,
mamando na mãe que havia morrido atropelada. Enara o recolheu e levou ao
veterinário.
Os meses foram passando, e Juca tornou-se um membro da família.
- Morro se tirarem ele de mim. É como se fosse um filho-, diz Enara.
Em vistoria à casa, a Patrulha Ambiental (Patram) da Brigada Militar
verificou que Juca não vive preso, sai quando quer, mas sempre retorna por
vontade própria. Por isso, expediu um parecer favorável à permanência do
bugio.
Em fevereiro do ano passado, a Justiça Federal deferiu liminar impedindo o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) de apreender o macaco por 180 dias - encerrados em agosto. O advogado
Milton Coelho espera que Enara obtenha a licença de criadora e a guarda
permanente do primata.
Ibama vê risco na situação
Conforme Fábio Faraco, chefe- substituto do Núcleo de Fauna do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quando
completar três anos, o bugio começará a desenvolver comportamento típico de
primatas - o que inclui agressividade e necessidade de procriação. Além disso,
os macacos são naturalmente transmissores de doenças ao homem, entre elas a
febre amarela.
- Dou 100% de certeza de que ele vai machucar alguém. Se pensam que ele é
fofinho, dócil, ele não é. É um animal silvestre, e vai se comportar como tal.
Sem falar que ele não pode procriar-, afirmou Faraco.
Ele disse admirar a atitude de Enara em ter salvo o animal, mas ressalta que,
exatamente por querer o bem de Juca, a dona de casa deveria querer devolvê-lo
à natureza.
O Ibama mantém dezenas de centros de criadores conservacionistas no Estado,
onde os animais são reintegrados à natureza. Doze deles possuem grupos de
bugios, e um, localizado em Morro Reuter, é especializado para este tipo de
primata. (ZH, 12/01)