“Vizinhos” uruguaios prometem mais um protesto, amanhã, contra as papeleiras
2006-01-12
A Assembléia Cidadã Ambiental de Gualeguaychú, cidade da província argentina de Entre Rios, vizinha a Fray Bentos, no Uruguai, resolveu que continuarão as interrupções promovidas em duas pontes internacionais da Argentina rumo ao Uruguai. Na noite de terça-feira (10/1), os integrantes da ONG confirmaram que amanhã (13/1), possivelmente a partir da tarde, será interrompido o fluxo de veículos, quando está previsto ocorrer o primeiro grande retorno turístico do verão. Esta decisão surgiu de uma reunião de avaliação de futuras ações na luta da entidade contra a instalação de duas fábricas de papel em Fray Bentos, sobre o rio Uruguai.
O pedido do governo argentino ao uruguaio para que as plantas industriais sejam relocalizadas mais ao sul do país recebeu rápidas respostas. Do Uruguai, o secretário de Indústria, Martín Ponce de León, e o subsecretário Jaime Igorra, contestaram que essa proposta é “incoerente e inaceitável”, e que não haveria mudanças.
Segundo dados do controle aduaneiro localizado na ponte internacional Gualeguaychú-Fray Bentos, em dezembro de 2005 viajaram da Argentina ao Uruguai 23.092 pessoas e 5.093 veículos. No mesmo mês de 2004,
foram 32.396 pssoas em 9.130 veículos. Assim, calcula-se que, em virtude do boicote turístico estabelecido pela Assembléia Ambiental de Gualeguaychú, a afluência de turistas reduziu-se quase 30%.
O Centro de Residentes Entrerrianos de Almirante Brown se manifestará
contra as fábricas no próximo 21 de janeiro (Sábado), em frente à empresa Buquebús, no porto de Buenos Aires, acompanhado de outras associações ambientalistas. Os manifestantes não impedirão a livre circulação, mas entregarão volantes informativos aos viajantes que embarcarem rumo ao Uruguai.
O governador entrerriano Jorge Busti (Partido Justicialista) disse que apóia estas mobilizações populares, "porque não são de um grupo piqueteiro, nem
ideológico, mas produtores, comerciantes, empregados e estudantes que
estão defendendo simplesmente o direito à vida”.
A opinião do músico Antonio Tarragó Ros, que dias atrás apresentou, no Festival Nacional de Gineteada e Folclore de Diamante, perto do Paraná, uma chimarrita contra as papeleiras, é semelhante: "/Ay!, rio de mieles ruanas/
Zampayo un canto te dio,/ que Tabaré no envenene/ tus pájaros río Uruguay"/,
diz ele em uma das estrofes.
O representante especial para Assuntos de Meio Ambiente da Chancelaria Argentina, Raúl Estrada Oyuela, explicou que o governo argentino assinalou que o lugar onde estão sendo construídas as fábricas é o pior, e pediu que sejam detidas as obras. "A chave deste conflito é que se mudem de lugar. Por
exemplo, se estivessem sobre o Atlântico, e estaria em férias neste momento”, concluiu.
O grupo ecológico Greenpeace revelou sua desconformidade com a idéia. “A proposta de trasladar as plantas para o sul é uma tentativa de administrar o conflito social em Gualeguaychú”, sustentou Juan Carlos
Villalonga, diretor Político do Greenpeace, acrescentando que, no entanto, “as plantas serão ingualmente contaminantes onde quer que as instalem, com as mesmas conseqüências regionais e sobre o rio Uruguai”.
O Greenpeace propõe um plano de produção limpa que incluiria uma mudança tecnológica (plantas totalmente livres de cloro, deixando a tecnologia ECF – livre de cloro elementar – para passar para a TCF – totalmente livre de cloro –, e circuito fechado de efluentes que permita a reciclagem da água); processo de deslignificação com oxigênio; aumento da porcentagem de papel que é reciclado; baixos volumes de produção, para reduzir também a magnitude dos efluentes, e exigência de exploração sustentável dos recursos florestais. (Clarín, 11/1)