O uso civil ou militar do urânio enriquecido
2006-01-12
O enriquecimento de urânio, uma operação que o Irã poderá realizar na usina de Natanz (centro) depois de ter removido os lacres do local, nesta terça-feira, permite a produção de combustível civil para alimentar uma central nuclear, ou material físsil para fabricar uma bomba atômica.
O Irã extrai urânio de seu próprio território. Presente em vários minerais, ele é um elemento radioativo natural que dispõe de dois isótopos, o U-238 e o U-235. O 235, único interessante tanto para as centrais quanto para a fabricação de uma bomba, é encontrado em porção muito pequena (0,7%) para que o mineral tenha esse uso. Por isso, é necessário enriquecê-lo, para alcançar taxas no isótopo 235 entre 4% e 5% para o uso civil, e de mais de 90% para a utilização militar.
No caso do Irã, o enriquecimento é feito por centrifugação. Em um primeiro momento, o urânio bruto, ou "yellowcake", deve ser convertido em hexafluoreto de urânio (UF6), que é o gás utilizado nas centrífugas destinadas a produzir urânio enriquecido.
No fim de 2004, quando Teerã já havia suspendido as operações de enriquecimento, os iranianos já tinham fabricado duas toneladas de UF6 a partir de 37 toneladas de "yellowcake", informou então o diretor-geral da Organização Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei.
Segundo um oficial deste órgão, que responde às Nações Unidas e foi premiado recentemente com o Nobel da Paz, essa cifra representava 15% do volume necessário para produzir a quantidade de urânio suficiente para fabricar uma bomba atômica.
O Irã não dispõe de uma central elétrica nuclear para utilizar o urânio que, hipoteticamente, poderia enriquecer. A única usina iraniana, construída em Buchehr pelos russos, será alimentada com combustível russo, segundo um acordo assinado entre os dois países.
O urânio utilizado nesta central será, em último caso, repatriado a Moscou. Também poderia ser devolvido ao Irã, com eventual uso para fins militares: o urânio usado permite produzir plutônio, do qual são suficientes seis quilos, de qualidade militar, para fabricar uma bomba atômica. Teerã insiste em seu direito de controlar a própria infra-estrutura nuclear, para não depender do fornecimento de outros países em seu futuro parque de centrais atômicas. O Irã rechaçou a idéia de transferir suas atividades de enriquecimento para a Rússia, apesar do pedido recente de Moscou.(AFP, 10/01/06)