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2006-01-11
Seis dos maiores poluidores do mundo se reúnem nesta semana na Austrália para promover novas tecnologias de energia como uma maneira de mitigar a mudança global do clima sem sacrificar o crescimento econômico. O encontro é classificado por especialistas como um sinal de que o debate sobre o efeito estufa está se deslocando para o lado defendido pelos Estados Unidos --medidas voluntárias, sem compromisso de redução de emissões de gases.

O grupo, chamado Parceria da Ásia-Pacífico para Desenvolvimento Limpo e Clima, é liderado pelo país de George W. Bush e tem seu primeiro encontro a partir de hoje (11/01), em Sydney. Também integram o bloco Austrália, Índia, China, Coréia do Sul e Japão --países que, juntos, produzem quase metade dos gases causadores do aquecimento global.

Fontes do governo australiano disseram à agência de notícias Reuters que a parceria pretende criar um fundo para ajudar a desenvolver tecnologias limpas, que seria iniciado pela Austrália com US$ 75 milhões. O bloco ainda conta com apoio privado para desenvolver e comercializar essas tecnologias, e seus representantes se encontrarão com líderes de empresas como a ExxonMobil durante a reunião.

O grupo afirma que seu objetivo é complementar, não minar, o Protocolo de Kyoto, acordo internacional que estabelece metas compulsórias de redução nas emissões de dióxido de carbono e outros gases-estufa para os países industrializados. O acordo foi rejeitado pelos Estados Unidos e pela Austrália sob alegação de que seu cumprimento --que implica em reestruturar o sistema energético de ambos os países, baseado em combustíveis fósseis- seria caro demais.

A China e a Índia são isentas de reduções por Kyoto, mas já sinalizaram que não aceitarão metas compulsórias num segundo período de compromisso do protocolo, previsto para 2013. "Isso significa que os países em desenvolvimento nunca aceitaram que metas seriam algo que fosse funcionar para eles", disse Alan Oxley, que dirige o Centro de Estudos Apec Austrália, um instituto de pesquisas sobre livre comércio. "Acho que [a parceria] irá atrair países que querem demonstrar que estão fazendo algo mas que não gostam de Kyoto", afirmou. "Tem apelo político."

Ainda segundo Oxley, a abordagem das medidas voluntárias --que incluem pesquisa de novas tecnologias energéticas, como motores movidos a petróleo mais eficientes, carvão "limpo", energia solar e geotérmica-- "produzirá resultados e dá tempo de entender melhor a ciência".

Grupo dos EUA
A parceria liderada por Washington foi criada em meados do ano passado, como uma reação dos EUA ao movimento pró-Kyoto liderado pelo premiê britânico Tony Blair durante a reunião de cúpula do G8 (grupo das nações mais ricas do mundo). A idéia de Blair era fazer com que as nações industrializadas e os gigantes do Terceiro Mundo (Brasil, China, África do Sul, Índia e México) reconhecessem que o aquecimento global é um problema grave e se comprometessem a atacá-lo --o Reino Unido defende metas obrigatórias de redução tanto para nações ricas quanto para as pobres. Com o anúncio da formação do "grupo dos EUA", concentrado em medidas voluntárias, o tiro saiu pela culatra.

O ministro do Ambiente da Austrália, Ian Campbell, disse que é preciso novas tecnologias para obter as reduções que os cientistas afirmam serem necessárias para lidar com o efeito estufa. "O consenso entre os cientistas é que nós precisamos de emissões 50% a 60% menores neste século", disse Campbell. "O objetivo é chegar lá e sabemos que não temos ainda a tecnologia para isso."

Feira de negócios
Ambientalistas classificaram o encontro em Sydney como uma "feira de negócios" para os interesses das indústrias. Eles afirmam não esperar resultados significativos do encontro --que o Partido Verde australiano qualificou de "passo na direção errada".

"Como seria de esperar de um encontro entre seis dos principais exportadores e consumidores de carvão mineral do mundo, esse parece ser um encontro para não fazer nada", disse Catherine Fitzpatrick, porta-voz do grupo ambientalista Greenpeace.(Folha de S.Paulo / Com agências internacionais, 10/01/06)

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