Resíduos reaproveitáveis são o desafio das processadoras de celulose
2006-01-11
As indústrias de celulose e papel de Santa Catarina ampliam a cada ano as alternativas de direcionamento dos resíduos gerados nas unidades para proporcionar um melhor destino ambiental.
Devido a essa evolução do reaproveitamento das sobras, o Sindicato das Indústrias de Papel de Santa Catarina (Sinpesc) iniciou um levantamento dos potenciais de uso dos materiais excedentes. A proposta é que haja incremento na implantação de tecnologias voltadas à reutilização desse produto.
Ao longo de 2005 foram realizados cinco encontros com as principais empresas do ramos no Estado, Paraná e do Rio Grande do Sul. Nessas reuniões, os empresários apresentaram alternativas de destino ambiental e a oferta desses subprodutos no mercado.
No mapeamento realizado em 25 empresas, o volume mensal de sobras de resíduos da reciclagem de papel (aparas), lodo oriundo das estações de tratamento, cinzas das caldeiras e calcário somam aproximadamente 10 mil toneladas de volume. Desse total, cerca de 80% é destinado para aterros industriais.
O setor quer mudar esta realidade. Os resíduos mostraram que têm valor como matéria-prima para outros processos. Ao revelar esse potencial, a proposta é estimular a implantação de empresas que trabalhem com a reindustrialização dos excessos, a exemplo do que ocorre com a serragem da madeira, usada para gerar energia e fabricar lenhas.
- Precisávamos compartilhar as experiências desenvolvidas na utilização dos resíduos para dar um destino ambiental mais correto e com ganhos econômicos - destaca o coordenador do projeto do Sinpesc, José Eliseu Kurpiel.
Materiais viram cabides e cantoneiras e já têm clientes
A Klabin, uma das maiores empresas de celulose e papel do país, fornece matéria-prima oriunda das sobras para a fabricação de cabides e cantoneiras de plástico e compostagem orgânica. O diretor industrial da empresa no Estado, Sadi Carlos de Oliveira, disse que prefeituras da região serrana são clientes do fornecimento de 2 mil toneladas de cal por mês. O produto, que sobra do uso no forno de alimentação das caldeiras, é utilizado para a correção do solo nas propriedades agrícolas.
- Além de gerar um ganho ambiental, com esse aproveitamento criamos empregos e novas oportunidades de negócios - salienta.
Futuro reserva lucro para "lixo"
Líder mundial na fabricação de papéis para uso na higiene humana, a empresa Kimberly-Clark do Brasil investiu, há dois anos, US$ 22 milhões em tecnologia e na construção de áreas para controlar a emissão de resíduos.
Com essa aplicação, a empresa trabalha na redução do uso das sobras oriundas da reciclagem de papel para a extração da fibra de celulose. Na unidade de Correia Pinto, a empresa produz cerca de 4 mil toneladas de papel por mês. A metade desse volume é oriunda de material reciclado.
A sobra desse material, que muitas vezes apresenta resíduos plásticos, pedras, grampos e outros objetos não usados pela indústria, passa por um processo de filtragem e gera cerca de 800 toneladas mensais de uma espécie de lodo.
Esse material passa por uma máquina de secagem e compactação e é armazenado em um aterro industrial licenciado.
A responsável pelo setor de gestão ambiental da indústria, Naiara Argente, explica que a meta é direcionar essa sobra para o uso na fabricação de outros produtos.
- No ano passado, 95% desse lodo ia para o aterro. Em um ano, conseguimos reduzir isso para 70%. A nossa intenção é reutilizar essa sobra como matéria-prima para outras empresas - diz.
O gerente da fábrica, Oswaldo Tironi, explica que duas empresas terceirizadas são responsáveis pela destinação dos resíduos. As sobras servem de base para a confecção de mangueiras e de um produto novo no mercado, conhecido como madeira ecológica. A técnica foi patenteada por uma empresa de Novo Hamburgo (RS).
Como aproveitar resíduos
Calcário: utilizado para fazer cal para ser reutilizado na indústria. O excedente é comercializado, a preços simbólicos, para agricultores na correção do solo.
Cinzas: oriundas das caldeiras, servem de compostagem para adubo orgânico. Algumas empresas comercializam para o uso nos pomares de maçã ou na pavimentação de estradas.
Lodo: o material retirado das estações de tratamento de água das empresas é, na maioria, utilizado em aterros industriais. Mas também é usado na fabricação de adubos. Algumas empresas vendem para fábricas de tijolos da região do Alto Vale do Itajaí, que misturam com a argila.
Resíduos plásticos do papel (apara): utilizado na fabricação da madeira ecológica. O material, a base do plástico, é utilizado na construção civil. O processo de industrialização foi patenteado por uma empresa de Novo Hamburgo (RS).
As empresas e entidades envolvidas no projeto
Adami, Alta Papéis, BN Papéis, Bonet, Cambará SA, Celulose Irani, Cia Canoinhas, CVG, HCR, Indaial Papel e Embalagem, Kimberly Clark, Klabin Papéis SC, Miguel Forte, Polpa de Madeiras, Primo Tedesco, Rigesa, Sopasta, Trombini Fraiburgo, Trombini Curitiba, Valpasa, ABTCP, Dalquim, Fera Consultoria, Kapersul, Secretaria do Meio Ambiente de Lages e Uniplac. (Diário Catarinense, 09/10)