Reciclagem poupa 7 mil árvores em BH
2006-01-10
Um incêndio ocorrido em um galpão de Belo Horizonte no início dos anos 80 afetou diretamente a vida de dezenas de pessoas. Cerca de 60 catadores de papel moravam no galpão abandonado da avenida do Contorno, no bairro de Barro Preto, e também lá guardavam o material reciclável que recolhiam durante o dia. Apesar dos prejuízos, a tragédia acabou por se transformar no início de um processo de fortalecimento do trabalho dos catadores, que aumentaram suas parcerias, aperfeiçoaram o recolhimento de lixo e hoje reciclam mensalmente material equivalente a 7 mil árvores.
O incidente daquela madrugada de 20 anos atrás chamou a atenção da Pastoral de Rua, que iniciou um trabalho de apoio aos catadores. A iniciativa culminou na criação da Asmare (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclável). Por suas atividades, ela foi uma das sete entidades destacadas pelo Prêmio ODM Brasil 2005 — uma iniciativa do PNUD, do governo federal e do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade que reconheceu as ações locais que mais contribuíram para o país avançar nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
“Antes, nós não tínhamos visão. Não sabíamos o que era ser cidadão nem tínhamos idéia de nossos direitos. Éramos discriminados porque achavam que todo mundo era lixo, só porque a gente trabalhava com lixo”, conta a coordenadora-geral da Asmare, Maria das Graças Marçal, que começou a trabalhar como catadora aos 8 anos de idade. “Mas o que é lixo pra todo mundo pra nós é geração de trabalho e de renda”, diz. "Além disso, fazemos nossa parte pelo meio ambiente".
O problema com a discriminação é parte do passado. Hoje, a Asmare trabalha em diversas parcerias, com empresas e com a prefeitura. Parte das companhias situadas na capital mineira e a Superintendência de Limpeza Urbana, órgão da prefeitura de Belo Horizonte responsável pela coleta de lixo, repassam à associação o material reciclável que coletam.
Fundada em 1990, no dia do Trabalho, a Asmare recolhe 450 toneladas de material reciclável todos os meses e tem 257 associados. “Uma árvore dá uns 50 quilos de papel. Faça a conta e você vai ver o que significa nosso trabalho”, provoca, orgulhosa, Maria das Graças. Contas feitas, são 7 mil árvores poupadas por mês.
Além do trabalho com a reciclagem, a entidade possui um centro cultural. O espaço, batizado de Reciclo, tem diversas oficinas durante o dia. “As crianças carentes fazem agenda, bloco, roupa, brinco. Tudo com material reciclável”, conta a coordenadora da Asmare. À noite, o Reciclo funciona como espaço de eventos, com um bar que conta com garçons que são ex-moradores de rua. (PNUD Brasil, 09/01)