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2006-01-10
Ainda é difícil imaginar 75 cata-ventos de 134 metros de altura brotando nos campos de Osório. Por enquanto, só é possível perceber a magnitude do investimento de R$ 670 milhões pela movimentação de caminhões, guindastes e operários.

Nem quem está ao lado do canteiro de obras consegue ter a dimensão do empreendimento que, até o final do ano, vai gerar 150 megawatts de energia pela captação do vento, o suficiente para abastecer ao mesmo tempo 650 mil pessoas.

- Sei que é de energia eólica. Dizem que é um troço de outro mundo-, diz Luiz Carlos de Souza, dono da tenda Girassol, que oferece produtos coloniais numa das estradas que dão acesso à obra.

Dentro de poucas semanas, o vendedor e o restante da população verão como os aerogeradores - nome técnico dos cata-ventos - vão transformar a economia, o visual e o humor da cidade. Em fevereiro, pelo menos duas torres estarão de pé. Os motoristas que passarão na freeway terão uma nova paisagem. Da RS-030, que liga Osório a Tramandaí, a vista será ainda melhor.

O restante dos aerogeradores surgirá no horizonte ao longo do ano. Quando concluído, o parque eólico deverá aumentar em 50% a arrecadação do ICMS de Osório, segundo estimativa da prefeitura. Com as boas notícias, o vento está passando de vilão a herói na cidade.

- A vida toda Osório reclamou do vento-, ironiza Paulo Andrade, proprietário da churrascaria Estância da Serra, no centro do município.

Para girar mesmo com a mais leve brisa, os aerogeradores foram construídos com tecnologia aeronáutica de ponta, a mesma usada em projetos de asas de aviões. As hélices têm 36 metros de comprimento, são de fibra de vidro e foram feitas em Sorocaba (SP).

Como boa parte da mão-de-obra necessita especialização, só 20% dos 500 funcionários contratados para trabalhar no parque são da região. Mas a cidade contabiliza ganhos indiretos disso. A administração municipal identifica ainda potencial turístico no empreendimento. No alto do morro da Borússia, a prefeitura vai construir com os empreendedores um mirante com vista privilegiada dos aerogeradores.

Até o slogan da cidade mudou. De Osório, vida e alegria passou para Terra dos Bons Ventos. Parece que o bordão pegou.

Tecnologia reforça caminho para auto-suficiência
Do ponto de vista energético, o parque eólico de Osório é mais representativo pelo acréscimo de uma nova tecnologia ao sistema elétrico gaúcho do que por sua potência. Mas seus 150 megawatts ajudarão o Rio Grande do Sul a atingir a meta de auto-suficiência em energia.

Ao longo deste ano, o Estado importará 30% da eletricidade consumida pelos gaúchos, deixando receita de impostos para outros governos. Por isso, a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações projeta para 2009 o ano da auto-suficiência.

- Vai ser muito importante porque o Estado vai deixar de mandar dinheiro para fora-, diz o secretário Valdir Andres.

Até lá, uma série de usinas em fase de construção ou desenvolvimento estará concluída. A ampliação da produção energética no Estado também traz outros benefícios, como mais empregos e pagamento de royalties para proprietários de terras que têm áreas alagadas por hidrelétricas. Além disso, o Rio Grande do Sul fica independente de eventuais problemas na transmissão de energia de outros Estados. Hoje, se houver problemas nas redes do sistema nacional, os gaúchos podem ficar às escuras.

Outra conquista é a garantia de abastecimento nos períodos de pico de consumo, que, no Rio Grande do Sul, geralmente são atingidos entre março e abril, meses que juntam o calor do verão com a retomada da produção nas indústrias. Neste verão, o consumo deve crescer 5%, mas Andres tem convicção de que a rede elétrica terá bom desempenho:

- Este verão, ao contrário do passado, deve ser tranqüilo. Mesmo que o consumo aumente 20%, o sistema tem condições de suprir a demanda.

Parte da confiança do secretário está depositada na conclusão da subestação de Nova Santa Rita, prevista para o final de fevereiro, obra que aumentará a oferta de energia na região do Pólo Petroquímico de Triunfo e nas cercanias de Porto Alegre.

A série de investimentos no setor provoca comportamento curioso entre empresários. Acostumados a reclamar da falta de infra-estrutura para incentivar novos negócios, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul avalia bem a gestão da eletricidade.

- Em princípio, estamos bem supridos. A confiabilidade das distribuidoras é grande-, diz Hans Dieter Rahn, vice-coordenador do grupo temático de energia da entidade.

Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, o setor lidera o ranking de investimentos confirmados para o Estado desde 2003, com R$ 10,1 bilhões - 40% do total.

Mais uma chance para o carvão
No pacote de investimentos de energia no Rio Grande do Sul, está incluída a possibilidade de conclusão de duas antigas usinas térmicas a carvão. O caso de Candiota Fase C e Jacuí 1 é antigo: ambas tiveram suas obras iniciadas há mais de 20 anos. Em dezembro, as empresas que controlam os projetos conseguiram compradores para sua futura produção de energia e, com essa garantia, podem recomeçar as obras.

Na Metade Sul, será concluído o terceiro módulo da usina Candiota 2, em Candiota. A unidade pertencia à Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e tinha equipamentos comprados na França desde a década de 70. Na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, a CEEE repassou Candiota para o governo federal, que a colocou sob o comando da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE). A dívida com os equipamentos foi quitada no governo Olívio Dutra. A CGTEE passou 2005 tratando de detalhes com um grupo chinês, que vai financiar 100% do que falta para concluir a obra.

Jacuí 1, localizada em Charqueadas, tem história parecida. A obra foi iniciada ainda nos governos militares. Foram gastos US$ 246 milhões e somente metade da unidade estava pronta quando as prioridades do governo federal mudaram. Jacuí foi posta de lado oito anos depois do início dos trabalhos. Com a privatização, a usina passou para o grupo belga Tractebel, depois para a Carbonífera Criciúma e, em julho de 2005, 90% foi comprado pela alemã CCC Machinery.

Com novo controlador, a energia de Jacuí foi vendida em leilão realizado em dezembro de 2005. Conforme Júlio Magalhães, presidente da Eleja SA, consórcio responsável pela obra, serão gastos US$ 430 milhões para retomada do empreendimento.

Mais luz
Alguns dos principais projetos energéticos confirmados para o Estado: Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó Potência: 855 MW Localização: Rio Uruguai, entre Alpestre (RS) e Águas de Chapecó (SC) Investimento: US$ 650 milhões Previsão de operação: dezembro de 2009

Usina Hidrelétrica Barra Grande Potência: 708 MW Localização: Rio Pelotas, entre Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS) Investimento: US$ 447 milhões Previsão de operação: uma turbina opera desde novembro, outra começa até abril e a terceira, no segundo semestre Usina Hidrelétrica Pai-Querê

Potência: 292 MW Localização: Rio Pelotas, entre Bom Jesus (RS) e Lages (SC) Investimento: US$ 215 milhões Previsão de operação: fevereiro de 2009. (ZH, 10/01)

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