Greenpeace: Triunfar é andar para a frente
2006-01-10
Está publicado neste mesmo informativo artigo intitulado "Triunfo
do Programa Nuclear Brasileiro", de autoria do presidente da Câmara dos
Deputados, Aldo Rebelo.
Em seu artigo, o deputado faz a idolatria do uso militar e civil da energia
nuclear embasado nos argumentos usados durante a ditadura militar dos anos
70. O deputado defende que o País jogue fora centenas de milhões de reais de
nossos recursos públicos no desenvolvimento de submarinos nucleares que são
equipamentos comumente utilizados para espionagem e ataques surpresa. Rebelo
louva o fato de um submarino atômico poder ficar três anos submerso. Resta
saber qual a tripulação que permanecerá três anos submersa e quantos
submarinos poderiam ser fabricados com os mesmos recursos que já foram
aplicados e que ainda são necessários para completar a construção do
submarino atômico brasileiro.
O deputado apóia ainda que outros bilhões sejam desperdiçados na fabricação
de combustível nuclear e na construção da usina nuclear de Angra 3. Só falta
ao presidente da Câmara defender a reabertura do buraco da Serra do Cachimbo
para testes da nossa nova bomba nuclear verde-amarela para, quem sabe, ser
utilizada nos novos submarinos nucleares.
Ficamos imaginando que país é este de que o deputado Aldo fala. Certamente
não é o Brasil que nós conhecemos. Um Brasil carente de recursos para
educação e saúde, que poderia utilizar os bilhões de reais gastos com o
Programa Nuclear Brasileiro em novas escolas e hospitais. Um Brasil com
enormes desafios ambientais, cujo governo, que tem demonstrado total
incompetência para gerir seu incrível patrimônio natural, provavelmente não
será mais eficiente em relação ao gerenciamento de seu lixo nuclear. Um país
com forte tradição diplomática para as negociações internacionais e, mais
que tudo, com um povo extremamente compromissado com a paz.
As idéias defendidas pelo nosso presidente da Câmara dos Deputados estão
completamente defasadas e demonstram que ele ignora que mais de 82% dos
brasileiros são contra a construção de novas usinas atômicas.
O Programa Nuclear, incondicionalmente apoiado pelo deputado Aldo Rebelo, é
extremamente caro e já consumiu bilhões de dólares em recursos públicos, sem
mostrar para a sociedade brasileira nenhum benefício. Só as usinas nucleares
de Angra 1 e Angra 2 custaram cerca de US$ 20 bilhões e produzem menos de 2%
da energia nacional. Quando se fala em produção energética, sempre é bom
lembrar que Angra 1 foi apelidada de "vaga-lume" por seus freqüentes
desligamentos. A propósito, Angra 2 parou de gerar energia em 25 de novembro
último e ainda não voltou a operar.
O lixo radioativo é ignorado pelo presidente da Câmara, mas é uma
conseqüência obrigatória dos reatores nucleares assim como o risco de graves
acidentes. Chernobyl (Ucrânia, 1986) e Three-Mile Island (Estados Unidos,
1979) provaram que essa é uma possibilidade real. No Brasil, o episódio do
Césio-137 em Goiânia mostrou que as autoridades brasileiras não estão
preparadas para lidar com uma situação de emergência.
Países como a Alemanha, Suécia, Espanha e Cuba repensam suas políticas
energéticas e abandonam a cara opção atômica. O Brasil pode ou retornar ao
passado com o discurso militarista defendido pelo deputado Aldo ou assumir a
dianteira no cenário mundial desenvolvendo e produzindo energias limpas e
seguras como a solar e a eólica.
Desperdiçar bilhões em energia nuclear como defende o presidente da Câmara
com seus velhos argumentos da época da ditadura é retroceder décadas.
Desenvolvimento é andar para a frente. O Brasil triunfará quando o Congresso
e o Poder Executivo olharem para o futuro e trabalharem por educação, saúde
e energia positiva.
Artigo do Greenpeace publicado na Gazeta Mercantil (08/01) em resposta ao artigo de Aldo Rebelo (03/01), disponível em http://www.ambienteja.com.br/2006/ver_cliente.asp?id=71300