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2006-01-09
Pelo terceiro verão consecutivo, estiagens prolongadas dizimam as lavouras de milho. Nas áreas em que o cultivo aconteceu mais cedo, as perdas já são irreparáveis. Quem plantou mais tarde clama por chuva, mas a queda na produção leiteira é inevitável, com reflexos durante todo o ano.

Conforme dados da Emater/Ascar local, Carlos Barbosa tem 4 mil hectares de área cultivada de milho, entre safra e safrinha. Para o chefe da entidade, Jandir Luis Pedroni, atualmente as perdas "chegam a 15% da safra, de modo geral, mas em alguns locais perda é bem maior, chegando a 90% em alguns casos."

O milho é uma planta que necessita de muita água em todo seu ciclo, sendo mais afetada na germinação e na floração, pendoamento e formação de espiga. "Se faltar água na fase de floração e formação do pendão, as perdas são maiores porque não vai ocorrer a polinização e não vai formar a espiga", disse Pedroni. Foi o caso da plantação de Geraldo Cousseau, em Torino.

"Lá ocorre um fato inédito na região", salienta Pedroni, "talvez até em função da diminuição da camada de ozônio. Quando ocorre uma estiagem, o normal é o milho murchar, enrolar as folhas e depois secar, mas as folhas estão queimando, literalmente, ficando na cor de palha. Isso é preocupante".

Para João Dioclésio Seibel, gerente do Departamento Técnico e de Fomento da Cooperativa Santa Clara, devido à seca "a silagem vai ser de baixa qualidade, afetando a produção o ano inteiro. Será preciso suplementar com mais ração para fornecer a energia, e isso eleva custos."

A Santa Clara segue interme-diando a compra de silagem para seus associados. O custo subiu para R$ 90,00 à tonelada, mas a boa notícia é que a Cooperativa de Crédito Rural Sicredi abriu uma linha especial para financiar a compra de silagem.

Financiamento
Segundo informações prestadas pelo gerente da Unidade de Atendimento do Sicredi em Carlos Barbosa, César Antônio Possamai, a taxa cobrada é de 1,8% ao mês, com três meses de carência e, depois, seis meses para quitar o empréstimo.

"O limite de valor é determinado pela capacidade de pagamento de cada produtor", disse César. Quem tiver interesse e for associado à Santa Clara, deve encaminhar seu pedido por meio do DTF, e os demais devem procurar a própria Sicredi.

Na condição de técnico agrícola da Emater local, o ex-prefeito Fernando Xavier da Silva foi avaliar a lavoura de Darci Salvi, em Coblens. Ele foi o primeiro agricultor a solicitar avaliação de perdas por causa da seca. "O milho do Salvi, na hora que precisou de chuva, quando pendoou e bonecou [fase anterior à formação da espiga], faltou água. A perda foi muito grande, estimei em 75%", disse Xavier.

Colbens
Em Coblens, num local bem elevado, Darci Salvi, 38 anos, cultivou 8 hectares de milho para vender o grão, porém a plantação foi duramente castigada. "Eu esperava colher 1.000 sacos de milho, mas agora, se colher 150 sacos, será muito", disse Darci.

Na propriedade de 12 hectares ele cultiva repolho, brócolis e vai plantar tomate, tudo garantido pela irrigação, mas o milho "é impossível de irrigar, é muita área e a água fica longe", justifica ele.

Darci contraiu financiamento de R$ 7,8 mil pelo Pronaf custeio (Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar), e vai encaminhar pedido de seguro do Proagro, mas vai parar de plantar milho: "Vou desistir do milho, já estou plantando eucalipto e vou investir mais nos hortigranjeiros. Já são três anos de prejuízo com o milho, só pagando conta, e retorno, até agora, nada".

Torino
O criador de gado de leite Geraldo Cousseau, 57 anos, tem um rebanho de 60 cabeças e atualmente produz 680 litros por dia, em Torino. Dos 12 hectares de milho que plantou, metade foi afetada pela seca. "Vamos perder mais da metade dos 12 hectares, seis estão perdidos. O técnico avaliou a perda de 85 a 90%", disse Geraldo.

A lavoura ficou sem água quando mais precisava, lamenta Geraldo: "Este aqui [indica o milharal queimado do sol] está perdido, pode chover que não adianta mais nada, não tem espiga. Este aqui vou cortar na próxima semana e tentar plantar de novo, se chover pode ser que vem bem".

Para o agropecuarista, a atividade leiteira está ficando inviável. "Do jeito que vai, vamos pagar para trabalhar. No mês passado recebi 46 centavos por litro e o meu custo é de 40 centavos. O pior está pela frente, não se sabe o que vem por aí, vai faltar alimento para o gado. Quando vi que o milho estava perdido fiquei nervoso e triste, se tem um gasto de mil e tantos reais por hectare e fica tudo perdido", lamentou Geraldo. (Jornal Contexto, 8/1)

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