A sujeira do mar nas praias do Paraná está ameaçando não apenas a saúde dos banhistas, mas também a harmonia entre as associações de comércio do litoral e o governo do estado. Depois que o último relatório da qualidade da água, divulgado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), apontou 32 locais impróprios para o banho, o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral (Sindilitoral) e as associações comerciais de Matinhos e Pontal do Paraná resolveram criticar o trabalho da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), da Sanepar e do próprio IAP.

O presidente do Sindilitoral, José Chicarelli, acredita que a coleta feita pelo IAP para analisar a água é parcial. “A coleta é feita na boca do esgoto. Tem muito lugar bom, que não é saída de rio ou esgoto, mas o relatório diz que toda a praia está contaminada. Eles ainda fazem coletas sempre nos dias de chuva, quando a sujeira aumenta”, diz. Segundo ele, o IAP costuma “dar atenção ao litoral apenas na época da temporada, sumindo assim que o verão acaba”.

O presidente do IAP, Rasca Rodrigues, se defende alegando que o processo de coleta para a realização do boletim da qualidade da água é feito conforme as regras do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). “O método utilizado obedece às resoluções do Conama. Pegamos as amostras nos domingos justamente porque é o dia em que a praia está mais cheia. O trabalho do órgão é agir de forma preventiva, para poder dar aos banhistas informações que possam lhes interessar”, diz Rodrigues. “Também coletamos amostras todas as quartas-feiras, independentemente se chove ou não”, completa. Sobre o suposto desinteresse do órgão pelo litoral fora da temporada, ele disse que essa declaração “é uma irresponsabilidade”.

Para o presidente da Associação Comercial de Matinhos, Carlos Freire, os órgãos estaduais não devem apenas apontar os problemas, mas tem que ajudar a dar uma solução. O IAP diz que essa não é uma responsabilidade do órgão, e sim das prefeituras, em conjunto com a sociedade civil. “No litoral, você dá a descarga de manhã e à tarde pode ser atingido pelo esgoto no banho de mar. A preocupação com o resíduo tem que ser uma constante para quem está na praia. A sociedade civil e os comerciantes também precisam fazer o lado deles para melhorar na limpeza”, diz Rodrigues.

O gerente regional da Sanepar no litoral, Denílson Belão, confirma que o litoral enfrenta problemas graves de tratamento de esgoto, mas acredita que a recente aplicação de recursos para a ampliação da rede coletora deva surtir efeito na qualidade da água do mar já na próxima temporada. “Estamos agora fazendo um trabalho de informação junto aos moradores para que eles façam a ligação da sua rede de esgoto na rede da Sanepar.” (Gazeta do Povo, 08/01)