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2006-01-09
Escunas buzinam alucinadamente e brigam por espaço no píer, onde descarregam turistas aos montes. Era uma cena comum na ilha Anchieta, um parque estadual em Ubatuba (litoral de SP), especialmente em janeiro.

Para garantir a preservação das praias livres de poluição, da mata atlântica e das ruínas de um famoso presídio nos anos 50 e não sobrecarregar a precária estrutura local, o parque limitou no final de dezembro o número de visitantes. Na ilha, que chegou a receber 2.400 turistas por dia, hoje o máximo permitido é de 1.020.

Escunas cadastradas pelo parque só podem agora fazer um desembarque de passageiros ao dia, para não exceder a capacidade de suporte da ilha. Nem todas, porém, têm obedecido a norma. Se cada escuna fizer duas viagens ao dia com a capacidade total, serão 2.990 turistas na ilha.

Limitar o acesso a regiões frágeis ecologicamente é uma medida cada vez mais comum, a exemplo do que já ocorre em Fernando de Noronha (PE). Lá, pagam-se R$ 32,12 por um dia de visita e R$ 602,39 por uma quinzena.

Taxa semelhante é defendida pelo prefeito de Ilhabela, Manoel Marcos de Jesus Ferreira (PTB), - 85% do território da cidade está no parque estadual que leva o nome do município.

No caso da ilha Anchieta, foi feito um estudo entre 2003 e 2005 para analisar os impactos do turismo em massa e verificar sua capacidade de receber visitantes.

O resultado da grande visitação, segundo a diretora do parque, a agrônoma Viviane Buchianeri, é a degradação. "O turismo em massa não permite que o visitante aprecie a natureza, como deve ocorrer numa unidade de preservação. Dão alimentos a animais, pegam orquídeas e bromélias na mata e levam conchas embora."

Uma placa dentro do parque tenta fazer o turista refletir: "Pense: a ilha recebe 80 mil visitantes por ano. Imagine se cada um levar uma concha como lembrança?"

A direção diz que muitos visitantes não sabem que a ilha é um parque, "vendido" pelas operadoras de turismo como mais um roteiro de Ubatuba. Para mudar a situação, foram gravados CDs, com informações sobre o parque entregues às escunas para que os visitantes saibam, ainda na viagem de 40 minutos de escuna desde o continente, sobre o lugar que irão conhecer e suas regras.

Por ser uma unidade de conservação, é proibido pescar na ilha e em seu entorno. Para não afetar os animais, não é permitido usar aparelhos de som e instrumentos musicais --porém, as escunas ficam com música alta enquanto esperam perto do píer.

Entre os roteiros oferecidos, a ilha chama a atenção dos visitantes principalmente por abrigar as ruínas da Colônia Correcional do Porto das Palmas, projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo.

É uma história que atrai --o engenheiro José Luiz de Almeida, 62, veio de Lagoa Santa (MG) visitar um amigo em Ubatuba e aproveitou para fazer o passeio. Ele estava interessado no passado da ilha, com seu presídio e a rebelião sangrenta de 1952.

Outros preferem circular pelas trilhas, tomar sol nas praias, descansar numa piscina natural. E vários turistas trazem consigo snorkel, nadadeira e óculos de mergulho para observar o mar transparente. Costumam ainda ter uma sacola com comidas e bebidas (não há lanchonete na ilha).

Apesar das várias placas de "proibido fazer fogueira", a reportagem viu duas, apagadas, na praia das Palmas --a maior das sete que compõem a ilha.


Ilhabela lotada
Nesta temporada, entre o Natal e o Ano Novo, Ilhabela recebeu em dez dias cerca de 30 mil veículos --um recorde histórico. A população saltou de 25 mil para aproximadamente 100 mil habitantes, segundo a prefeitura local.

"Está demostrado que a nossa cidade, por ser um arquipélago, tem um limite de ocupação. Por isso, pensamos em tomar medidas para discutir a quantidade de carros que podem entrar", diz o prefeito de Ilhabela. Segundo ele, será definido se a cobrança de uma taxa de preservação será feita por veículo ou por pessoa.

O efeito quase imediato da superlotação foi uma pior qualidade das praias. No dia 30 de dezembro, por exemplo, sete das 40 praias de Ilhabela estavam impróprias para banho. Anteontem, havia quatro praias em condições ruins. Para o prefeito, a cidade comporta no máximo 50 mil pessoas. "Passou disso, começa a complicar", diz Manoel Marcos.

Mais gente significa mais lixo, que é levado para um aterro no Vale do Paraíba, e o trânsito "paulistano" --uma única estrada contorna toda a face oeste da ilha.

"O turista que vem a Ilhabela é de uma classe social mais abastada, que pode ajudar a preservar." (Folha de S. Paulo, 08//01)

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