Barros faz Planos para 2006: combate à corrupção e licenças mais ágeis
2006-01-06
Em 2005, o Ibama fez papel de herói e vilão. Teve atuação decisiva na
redução de 30% da taxa anual de desmatamento na Amazônia. Mas só conseguiu
isso graças ao desmembramento de um forte esquema de corrupção dentro de seus
próprios quadros: a operação Curupira. "Foi navalha na carne", lembra o
amazonense Marcus Barros, presidente do instituto. Uma ferida que não vai
cicatrizar tão cedo. Em entrevista ao Estado, ele promete mais limpeza para
2006: "Isso é um vírus que você não mata de uma vez só. A variável da
corrupção é um dos cupins da floresta, uma das motosserras mais afiadas da
Amazônia." Um dos passos mais importantes desse esforço será a substituição
das Autorizações de Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), documento
rotineiramente fraudado para mascarar a extração ilegal de madeira - como no
esquema desbaratado pela Polícia Federal.
"Até meados deste ano teremos implantado um projeto piloto para que a ATPF
seja sepultada", sentencia. As autorizações serão substituídas por um
Documento de Origem Florestal (DOF), registrado online, que fará o
rastreamento da madeira do corte na floresta até o pátio das madeireiras.
Em respostas às constantes críticas de que o Ibama emperra o desenvolvimento
do País, por causa da demora no licenciamento de obras, Barros anuncia que
2005 foi o ano em que o instituto mais emitiu licenças ambientais. Foram 237
projetos licenciados, 15 a mais que em 2004 e 106 a mais que em 1999. "O
processo é muito dinâmico, mas, a grosso modo, diria que isso corresponde a
70% da demanda", disse.
O governo acaba de anunciar um grande pacote de obras para 2006, incluindo
duas grandes hidrelétricas no Rio Madeira. O Ibama tem condições de
licenciar todas essas obras a tempo?
As que chegarem até nós, teremos condições de licenciar, com certeza. Esse
projeto do Rio Madeira é a grande obra da Amazônia depois da BR-163
(Cuiabá-Santarém). E estou lhe dizendo que estamos trabalhando e nos
concentrando nela. Queremos emitir a licença prévia até julho.
Qual a razão para o número recorde de licenças em 2005?
Quando chegamos aqui (em 2003), fizemos um esforço de substituir todo o
aparelho licenciador do Ibama, que tinha 7 servidores de carreira e cerca de
70 consultores. Era uma distorção grave. Conseguimos inverter isso e agora
temos todo o aparelho licenciador do Ibama com servidores concursados. Outro
ponto foi a melhoria da área física. Quando chegamos aqui as pessoas
trabalhavam num corredor e tinha um computador para cinco funcionários.
Compramos 450 computadores. Outra coisa que melhorou muito foi a qualidade
do EIA-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental). Fizemos um trabalho
junto aos empreendedores para que já chegassem aqui com o EIA-Rima de forma
que não precisasse ser devolvido para revisão, o que era quase uma regra.
Juntando tudo isso, começamos a atender os pedidos mais rapidamente. O tempo
de licenciamento de uma hidrelétrica, que demorava 12 meses, caiu para 9
meses.
Isso se ninguém entrar com uma ação na Justiça, o que é comum.
Bem lembrado. Este é outro fator que emperra o processo. Contornamos muito
isso em reuniões com o Ministério Público, mas precisamos avançar mais.
Também fizemos uma descentralização com base no Sisnama (Sistema Nacional do
Meio Ambiente). O Ibama parou de querer licenciar tudo. Para exagerar um
pouco, quando eu cheguei aqui o Ibama licenciava lenha de padaria.
Existe todo um aparelho licenciador que precisa ser descentralizado. Veja o
exemplo do gasoduto Quari-Manaus: provamos na Justiça que o licenciamento era
de responsabilidade do Estado do Amazonas. E assim fizemos com outros
projetos. Racionalizamos nossas forças para grandes empreendimentos de
comprometimento interestadual e grande impacto ambiental.
Como o senhor avalia a capacidade do Ibama de detectar crimes ambientais na
Amazônia?
Temos a exata noção de que as ações de comando e controle que são delegadas
ao Ibama não podem ser só do Ibama. Veja o exemplo do Plano de Combate ao
Desmatamento na Amazônia: a ministra Marina conseguiu aglutinar
13 ministérios, e nós tiramos um pedaço de cada um para reduzir a taxa de
desmatamento. Isso não é só o Ibama, mas uma ação conjunta com Polícia
Federal, Exército, ministérios e várias outras forças. Hoje temos cerca de
600 fiscais na Amazônia e teremos mais 305 analistas ambientais até abril.
Isso é suficiente?
Não vamos pensar que se colocasse 10 mil fiscais na Amazônia isso iria
resolver a questão. Precisamos criar alternativas de desenvolvimento que não
sejam só a repressão. Com relação a isso, estamos convictos de que o Projeto
de Lei de Florestas, que está em fase final de votação no Congresso, é uma
alternativa concreta de preservação ambiental, porque estimula a trazer para
a legalidade a indústria madeireira. Longe de nós querer destruí-la, porque
ela é uma riqueza para a Amazônia. Mas a ilegalidade é enorme. Não vejo,
hoje, mais do que 10% de atividade madeireira legal na Amazônia. (O Estado de
S. Paulo, 05/01)