A guerra eleitoral começou no esgoto. Pelo menos é o que se pode concluir da divergência extrema do resultado dos laudos feitos pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Enquanto o órgão estadual afirma ter obtido um resultado equivalente a uma baixa incidência de esgoto, a secretaria municipal aponta uma concentração de coliformes fecais seis vezes superior à aceitável de acordo com os padrões do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

De acordo com a coordenadora de Despoluição Ambiental da secretaria, Carmen Lucariny, os problemas de tubulação de Copacabana acabam agravando a situação provocada pela alta incidência de chuvas. "As línguas negras são formadas por extravasores das galerias de águas pluviais. Quando enchem, acabam indo parar nas areias. A solução é a conexão com o emissário submarino, mas para isso a Cedae tem que autorizar", diz a coordenadora.

A chefe da Divisão de Qualidade da Água da Feema, Fátima Soares, não quis dar um veredicto final sobre a situação das águas em frente às línguas negras, mas acredita mais na ação das águas das chuvas - arrastando detritos e partículas - do que propriamente na presença de esgoto. "Não podemos afirmar nada em relação à presença ou não de esgoto, mas o fato é que nosso teste, que é de campo, deu uma coloração amarelada bem fraca",diz Fátima, ressaltando que o Teste de Nessler, usado no local, apresenta coloração laranja muito forte quando há esgoto in natura, como foi o resultado divulgado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O deputado estadual Carlos Minc (PT) acredita que a divergência entre os laudos seja uma questão política. "A poluição é o que os outros sujam. Quando você suja, está praticamente limpo. Quando é o outro, está contaminando. A Cedae tem canos velhos de esgotos, com 80, 90 anos. Quando chove, acaba rompendo e atingindo as águas pluviais. Sempre acarreta na contaminação da areia. Há um ano e meio, quando fizemos testes nas areias, deu resultado alarmante, com muitos bichos, do Leme ao Pontal. Não tem saneamento básico nas favelas, o que piora a situação".

O Conama tem como limite aceitável o valor de 800 nmp (número mais provável) para cada 100 ml de água coletada. Na altura da Rua República do Peru, os testes municipais encontraram concentração de coliformes fecais de 5.000 nmp. Na Rua Barão de Ipanema, o mesmo número, 5.000 nmp. Já Na Rua Souza Lima, uma concentração menor: 230 nmp.

A coordenadora da secretaria municipal prefere não polemizar, apesar da diferença de resultados. "Geralmente, concordamos em tudo. Pode ter havido algum erro de interpretação no teste da Feema, no máximo isso. Mas o entendimento entre os órgãos é bom", diz Carmen Lucariny.(Jornal do Brasil, 05/01/06) Link: http://ces.fgvsp.br/index.cfm?fuseaction=noticia&IDnoticia=38179&IDidioma=1