Gaúcho traça evolução de felinos
2006-01-06
Como dois parentes que se reencontram depois de anos de separação, o guepardo
africano e o leão-baio gaúcho serão apresentados ao mundo hoje (06/01) como
primos - e não mais familiares distantes. Esta é uma das conclusões que uma
pesquisa elaborada com a participação de um gaúcho trará ao ser divulgada na
revista Science.
O trabalho decifrou a evolução e o parentesco das 38 espécies de felinos
existentes - um problema clássico da biologia que ao longo das últimas décadas
gerou uma série de classificações desencontradas. As diferentes linhagens,
que conforme algumas catalogações chegavam a 23, foram resumidas a 11 gêneros.
Pela análise do material genético de todas as espécies felinas nos últimos
cinco anos, o artigo publicado hoje pela revista norte-americana conseguiu
definir com acuidade inédita a que gêneros pertencem os gatos que se
originaram do mesmo antepassado há 11 milhões de anos.
Acreditava-se, por exemplo, que o animal terrestre mais veloz do planeta - o
guepardo, capaz de atingir 110 km/h - fosse parente distante da maioria dos
demais felinos. A partir de hoje, os livros terão de colocá-lo como parente
próximo do leão-baio, comum no Estado, do qual se separou há 5 milhões de
anos.
- Como ele é muito diferente dos outros felinos, era colocado em outra
subfamília. Agora, sabemos que ele adquiriu suas diferenças recentemente,
depois de se separar da linhagem do puma. Ele é uma espécie de primo do nosso
leão-baio e do gato-mourisco-, explica o doutor em biologia e professor da
PUCRS Eduardo Eizirik, 33 anos.
O porto-alegrense Eizirik é pesquisador associado da instituição
norte-americana que realizou o estudo, o Laboratório de Diversidade Genômica
dos Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos. Ele participou da
análise do DNA dos bichos quando morava nos EUA, há pouco mais de dois anos.
Como resultado do trabalho, os livros de biologia do mundo inteiro deverão
mudar. Nove espécies mudaram de gênero e deverão receber novos nomes
científicos. Existente no Estado, o jaguarundi, ou gato-mourisco, deverá ter
substituído o gênero Herpailurus por Puma.
O inédito levantamento genético determinou os caminhos que os felinos
percorreram até se espalhar pelo mundo. O número de grandes migrações,
diferentemente do que se pensava, não é muito grande. Houve 10 viagens
intercontinentais ao longo da História - três delas tendo como destino a
América do Sul e o Estado entre oito e um milhão de anos atrás. (ZH, 06/01)