(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
pensamento de esquerda sustentabilidade e capitalismo crescimento econômico
2006-01-06

Não sou profeta nem filho de profeta. Sou filho de professor primário e de mãe analfabeta. Mas como teólogo, fui educado a considerar continuamente a história sub specie aeternitatis, quer dizer, na perspectiva da eternidade, manifestada nas Escrituras que narram a história de um povo de referência, o judeu-cristão; e ainda sob critérios éticos, que ajudam ou dificultam a construção da cidade dos homens.

Ao considerar o estado da Terra e a cena política mundial, também brasileira, me encho de temores. Podemos ir ao encontro de uma grande desintegração. Esta reside no fato apontado por vários analistas a começar por Marx, pelo economista norte-americano de ascendência húngara Karl Polanyi e entre nós pelo brasileiro Michael Löwy: a economia se desgarrou da sociedade. Desinserida e desvinculada de qualquer controle social, estatal e humano ela ganhou livre curso. Funciona obedecendo a sua própria lógica que é maximizar os ganhos, minimalizar os investimentos e encurtar ao máximo os prazos. E isso em escala mundial e sem qualquer cuidado ecológico. Tudo vira um grande Big Mac, tudo é colocado na banca do mercado: saúde, cultura, órgãos, religião. É sinal da "corrupção geral e da venalidade universal" como dizia Marx em 1847 (Miséria da filosofia) . É A grande transformação como a caracteriza Polanyi, nunca antes havida.

O efeito mais desastroso desta transformação consiste em reduzir o ser humano a um mero produtor e a um simples consumidor. O resto são zeros econômicos desprezíveis: pessoas, classes, regiões e inteiras nações. O trabalho morto (máquinas, aparelhos, robots) suplanta o trabalho vivo (os trabalhadores). Tudo é reduzido a mercados a serem conquistados para poder acumular de forma ilimitada. O motor que preside esta lógica é a competição a mais feroz possível. Só o forte subsiste, o fraco não resiste, desiste e inesiste.

Ocorre que esta ferocidade encontra um limite: a natureza com seus recursos limitados e sua limitada capacidade de suporte. Mas ela não é respeitada. Se fosse, a economia se destruiria a si mesma. Por isso ela tem que desmatar a floresta amazônica para continuar a lucrar. A Terra ultimamente tem mostrado sua revolta: o superaquecimento, os tufões, as secas, as enchentes e no nivel humano, a crescente violência nas relações sociais. O estudo sobre o clima feito pelo Pentágono em 2004 adverte: nas próximas três décadas, a mudança climática será muito mais perigosa que o terrorismo. A humanidade pode entrar numa anarquia generalizada. Ela tem que mudar de rumo. Mas vai querê-lo?

Vejo muita sabedoria na afirmação: o ser humano aprende da história que não aprende nada da história mas aprende tudo do sofrimento. É o sofrimento que o faz mudar. Quando a água chegar à boca, o ser humano esperneia e faz tudo para mudar, caso contrário morrerá.

Pelo andar das coisas, nos está sendo preparado um grande sofrimento seja de ordem ecológica seja econômico-social. Se fôssemos racionais, poderíamos evitá-lo. Mas como nos mostramos irracionais e insensatos não queremos mudar de rumo e assim vamos ao encontro de uma previsível desintegração. Mas consolemo-nos: ela é sempre criativa e o caos, generativo como nos atestam cosmólogos contemporâneos. Abrem-se possibilidades de outras ordens.

Quais são as alternativas à desintegração? Na próxima reflexão voltaremos a esse tema preocupante e sinistro.

(Leonardo Boff - www.leonardoboff.com, 05/01)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -