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2006-01-06
Quem circulasse pelas estradas gaúchas nos últimos meses do ano passado podia cruzar por cartazes com mensagens bastante antagônicas. Um deles, patrocinado pela Aracruz, convidava produtores rurais para plantar eucaliptos. Em outros locais, outdoors, bancados por uma organização de ambientalistas, conclamavam a população: "Monocultura de árvores; não cultive esta idéia".

Estas placas têm sido a parte mais visível da disputa entre os defensores e os opositores aos projetos de desenvolvimento florestal no Rio Grande do Sul. O debate começa a ultrapassar as fronteiras do meio acadêmico, organizações não-governamentais, empresas e governo. Nas cidades do interior, começam a brotar preocupações sobre a possibilidade de as florestas nascentes de eucaliptos e pinus prejudicarem o ambiente. Grandes fabricantes de celulose e papel podem investir mais de US$ 3 bilhões nos próximos dez anos no Rio Grande do Sul com projetos que pelo menos dobrarão a área de plantio de árvores.

Os ambientalistas estão preocupados com a envergadura dos empreendimentos. "Não vemos possibilidade de conciliação num projeto desta dimensão", diz a militante Carla Villanova, do Núcleo Amigos da Terra-Brasil. A ONG, que espalhou os painéis nas cidades onde as empresas de celulose estão se instalando, vem organizando debates para provocar a discussão sobre os impactos ambientais dos projetos. O trabalho, feito de forma voluntária por uma equipe de menos de dez militantes, recebeu 8 mil euros do exterior.

A grande atenção dos ambientalistas está na plantação dos maciços de eucaliptos, criando o que eles chamam de "grandes desertos verdes", provocando danos irreversíveis para o solo, água e a fauna dos pampas. "A região onde as empresas querem plantar não é um vazio. Lá existe vida que pode ficar ameaçada com os projetos das empresas", diz Ludwig Buckup, professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Os ambientalistas alegam que o número de empregos será pequeno e o dinheiro poderia mobilizar as pessoas no campo, em vez de empurrá-las para as grandes cidades.

As empresas não pensam assim. Elas propõem a adoção de um meio alternativo ao utilizado na maioria dos projetos de reflorestamento existentes em outras partes do país. A idéia, que começou a ser desenvolvida pela Votorantim num projeto piloto no interior de Minas Gerais, é permitir o convívio das culturas usuais da região com o eucalipto. A Stora Enso deve repetir o mesmo procedimento.

Com um espaçamento do eucalipto em linha maior do que o usual, o plano da VCP é permitir o plantio de arroz no primeiro ano, soja no segundo e o terceiro ano, pasto no quarto ano e a criação de gado nos anos seguintes, até o sétimo, quando a árvore está pronta para ser cortada e usada na fabricação de celulose.

Com isso, as empresas pretendem permitir que os fazendeiros sejam incluídos na cadeia de produção, conciliando as atividades econômicas corriqueiras da região com o plantio da árvores. A Votorantim Celulose e Papel (VCP) já começou o plantio desta maneira no Estado e está monitorando a melhor forma para fazê-lo . Procurada, a empresa não atendeu o pedido de entrevista solicitado pelo Valor.

Os ambientalista são céticos em relação ao método. Não acreditam que seja factível por reduzir a produtividade das terras e encaram a proposta como uma opção inviável. "Isso ameniza, mas não resolve o problema", diz Buckup, da Ufrgs. "Os custos ambientais continuam altos e serão pagos no futuro."

A procura dos fazendeiros, contudo, pelas mudas de eucaliptos está intensa. Todos os sete viveiros regionais, bancados em conjuntos por entidades, como a Emater-RS, já esgotam sua capacidade de produção. "Não conseguimos suprir a demanda nem dos pequenos", diz Ênio Maraschin, gerente regional do viveiro de Alegrete, inaugurado há um ano e que deve produzir 600 mil mudas em 2006, cinco vezes mais do que o fabricado no ano passado. Cada muda de eucalipto é vendida ao preço de R$ 0,10.

O plantio das árvores tem sido feito antes da Fepam, o órgão ambiental do Rio Grande do Sul, definir as regras do zoneamento, que prevê as áreas disponíveis e livres para o cultivo de árvores. O plano, que começou a ser elaborado em 2004, deve ficar pronto em março. "Lamentavelmente, o tempo do Estado é mais lento e o da iniciativa privada mais rápido", afirma Rui Carvalho, assessor da presidência do órgão ambiental.

A Fepam diz que, além do respeito das áreas definidas como reservas legais (20% do total), impedirá o plantio onde existam biomas importantes ou ecossistemas fragilizados. Carvalho afirma que as empresas sabem do risco de plantar antes do zoneamento e declara que elas se comprometeram a voltar atrás em áreas que, depois de definidas pelo zoneamento, tornem-se vedadas para o plantio.

"Tu achas que as empresas com status internacional querem comprar uma bronca destas?", questiona Carvalho. Para acompanhar as mudanças nas áreas de plantio, a Fepam estuda a leitura via satélite, ano a ano, das zonas com vegetação no Estado. A intenção é monitorar os impactos e punir os responsáveis por eventuais desrespeitos à lei. Para os ambientalistas, a discussão rompe os limites da questão ambiental. "Há ainda um grande problema cultural: vão acabar com o gaúcho que cavalga pelas coxilhas do pampa", emenda Carla Villanova. "Ele se transformará em um moto-serrista."

Na avaliação do consultor Celso Foelkel, especializado no setor de papel e celulose, os argumentos dos ambientalistas ajudarão para formatar os projetos com sustentabilidade. "A verdade não está nos dois lados. É bom que exista esse debate para as empresas atentarem para certos detalhes que não tinham percebido."
( André Vieira - Valor, 06/01)

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