Bloqueio de estrada marca intensificação dos protestos contra construção de fábricas de papel no Uruguai
2006-01-05
Uma interrupção do trânsito de veículos na rota entre Fray Bentos no Uruguai, e Gualeguaychú na Argentina marcou na noite de terça-feira (03/01) o primeiro ato do "boicote turístico" neste ano em protesto contra a instalação de duas plantas de celulose e papel às margens do rio Uruguai. O bloqueio começou por volta das 20:00hs e se prolongou até pouco depois da meia noite. Oscar Bargas, integrante de um dos grupos ambientalistas locais declarou que esse foi apenas o primeiro. "Vamos seguir com esta modalidade. Vamos cortar o trânsito sem prévio aviso ou comunicando o protesto apenas algumas horas antes".
O Deputado provincial argentino Juan José Bahillo (PJ) apoiou o protesto, pois "as outras formas de diálogo com o governo Uruguaio não deram resultado". "Aos cidadãos de Gualeguaychú não restou outra saída para que suas preocupações sejam ouvidas", afirmou ele.
"Devemos esclarecer que não haverão cortes prolongados de quinze dias, nem mesmo indefinidos, como erroneamente foi informado", disse Javier Villanueva, representante do intendente Daniel Irigoyen dentro da Asamblea Ambiental da província argentina de Entre Rios.
À margem dos cortes, a polémica da instalação das papeleiras, sobre o rio Uruguai, já produziu alguns atritos entre o gobernador Jorge Busti (PJ) e parte da sua equipe. Busti havia "sugerido" a conveniência de não veranear esta temporada no país vizinho, para apoiar as medidas tomadas pelos moradores de Gualeguaychú.
O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Reynaldo Gargano, opinou que os bloqueios e outras medidas de boicote "atentam contra o Mercosul e são muito graves".
Antecedentes
Em 2002 a Empresa Nacional Celulosa España (Ence) apresentou ao Governo uruguaio o projeto para a instalação de uma planta de pasta de celulose em Fray Bentos, com um investimento de US$ 600 milhões. O mesmo fez a finlandesa Botnia em 2004, com um investimento de US$ 1,2 bilhão.
A notícia gerou resistência em Gualeguaychú e em organizações civís e ambientais do Uruguai por conta da eventual contaminação que as fábricas provocariam. Em 30 de abril de 2005, 40 mil pessoas bloquearam em protesto a ponte internacional Gualeguaychú-Fray Bentos. Se formou em seguida a Asamblea Ambiental. E em 5 de maio, os presidentes Néstor Kirchner y Tabaré Vázquez acordaram a criação de uma comissão binacional para analisar o impacto ambiental.
O Governo entrerriano apresentou recursos judiciais na Côrte Interamericana de Direitos Humanos e na oficina de Ombudsman do Banco Mundial. O último bloqueio do caminho ao Uruguai ocorreu em 30 de Dezembro e produziu uma demora de até três horas para chegar a esse país. Só se pôde chegar por terra através do paso de Colón—Paysandú.(Clarin 04/01/06)