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2006-01-05
O sistema agrossilvipastoril, que prevê árvores, pasto e animais na mesma área, está conquistando pecuaristas, por proporcionar aumento da produção de carne e de leite, além de ajudar na preservação do ambiente. "As árvores protegem o solo contra a erosão, conservam a umidade do solo e a água, embelezam a paisagem e aumentam a biodiversidade do ecossistema", diz o pesquisador Luiz Aroeira, da Embrapa Gado de Leite. Ele diz que, na Zona da Mata mineira, o sistema é usado nas regiões de morros, para prevenir a erosão e recuperar áreas degradadas. "Os ganhos ambientais são significativos." "Para o bom resultado do sistema agrossilvipastoril, porém, é importante a utilização de árvores que possibilitem a entrada de luz e permitam o crescimento das forrageiras", diz Aroeira. Ele destaca, como mais indicadas para essa finalidade, leguminosas como angico, gliricídia, leucena ou os arbustos cratilia e guandu.

Para aumentar a produtividade da pastagem, ele recomenda o consórcio de gramínea e leguminosa rasteira ou herbácea. Segundo Aroeira, as pastagens consorciadas nesse sistema produzem mais forragem, que permanece mais verde, mesmo na seca. "O resultado é o maior ganho de peso dos animais na seca, comparados aos que são criados somente em pastos comuns." Nos experimentos, comprovou-se o aumento diário de 300 gramas no peso das novilhas, ante 150 a 200 gramas nas novilhas criadas no sistema convencional na época da seca .

Adepto da agricultura orgânica desde 1997, o produtor Ricardo José Schiavinato, de Serra Negra (SP), entrou no sistema agrossilvipastoril há dois anos. Para ele, a principal vantagem proporcionada pelas leguminosas associadas à pastagem é o aumento da proteína disponível aos animais, substituindo a ração fornecida no cocho. "Sem ração, eliminei 20% dos custos." Quando o sistema estiver completo, ele acredita que, por causa da melhora do bem-estar animal, a produção de leite deve crescer 30%.

Ele cita outros benefícios: as árvores no pasto funcionam como quebra-vento, mantendo a umidade do solo, aumentando a fixação de nitrogênio e melhorando a qualidade do pasto.

SISTEMA VOISIN
Na fazenda, onde o gado é criado no sistema voisin, em piquetes de 2 mil a 2.500 metros quadrados, as árvores foram plantadas nas divisas dos piquetes. Além das leguminosas leucena, gliricídia e eritrina, também foi usado o arbusto flor-do-mel, de folha bastante palatável, e a flor, parecida com uma margarida grande, atrai inimigos naturais. "Com exceção da gliricídia, que é podada e jogada no pasto para os animais, as outras espécies são consumidas direto pelo gado. No inverno, os animais recebem suplementação com silagem de cameron."

Os animais fazem dois pastejos diários. Depois da ordenha, vacas e bezerros ficam juntos no pasto e, ao redor das 14 horas, são apartados. "As vacas vão para o segundo pasto, normalmente de melhor qualidade, onde têm disponível, além de capim, as leguminosas", diz. A fazenda produz 300 litros de leite/dia, transformados em iogurte, ricota, queijo e manteiga.

CAFÉ, LEITE E GALINHA
Com produção diária de 100 litros de leite orgânico, Mônica Veloso começou sua criação de gado girolando, em Juiz de Fora (MG), há quatro anos. "A produção orgânica levou-me ao sistema agrossilvipastoril", conta, e acrescenta que a produção de leite aumentou, com a melhor qualidade do pasto. Antes, as vacas produziam de 8 a 9 litros; hoje, de 10 a 13 litros/dia.

Também cultiva café orgânico sombreado com árvores e a integração animal, nesse caso, é feita com galinhas caipiras para ovos e corte. "As folhas que caem das árvores dão os nutrientes suficientes para o cafezal, mantendo o equilíbrio térmico e o sombreamento, e as fezes das aves adubam o solo."

Entre os benefícios do sistema, estão a sombra para o animal, a manutenção da umidade do solo para o pasto e a facilidade no controle dos parasitas. "As gramíneas e os estilosantes (leguminosas) brotam fácil."

Com o ambiente propício, Mônica diz que os pássaros retornaram aos pastos e ajudam no controle dos parasitas, além de comerem as ervas daninhas das pastagens. Os gastos com ração também caíram. Hoje, apenas as vacas em lactação recebem 1 quilo de ração/dia por animal. "Pretendo abolir a ração quando melhorar mais a pastagem." Ela também enxugou os custos com banho para eliminar parasitas do gado, que é feito à base de ervas, agora, porém, com maior espaçamento. "Isso significa redução da mão-de-obra." (O Estado de S. Paulo, 04/01)

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