Produção de camarão no Ceará é altamente poluidora
2006-01-04
O desenvolvimento da carcinicultura, criação de camarão, vem se intensificando no Brasil, principalmente no Nordeste, em função da alta rentabilidade econômica, elevada produtividade e fácil adaptação. Para se ter uma idéia, em 2003, o país produziu 90 mil toneladas de camarão, exportando para os Estados Unidos e a Europa 62 mil toneladas, gerando um faturamento de 220 milhões de dólares.
O aumento da produção, no entanto, gera uma maior preocupação em relação aos impactos ambientais provocados nos ecossistemas naturais, principalmente no que diz respeito à poluição hídrica. Por isso, pesquisadores da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e da Cogerh - Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos resolveram fazer uma análise da carcinicultura na região do rio Jaguaribe, no estado do Ceará.
Foram identificados todos os viveiros de camarão da região e em seguida uma equipe técnica aplicou questionários junto aos proprietários ou gerentes técnicos de 31 fazendas em operação e de uma desativada. De acordo com artigo publicado na edição de abril/junho de 2005 da revista Engenharia Sanitária e Ambiental, o trabalho teve como objetivos identificar o corpo receptor dos efluentes da carcinicultura em águas interiores no Baixo Jaguaribe; avaliar as características físicas, químicas e bacteriológicas dos efluentes contínuos e da despesca de fazendas de camarão; apresentar a carga poluidora desses efluentes e; refletir sobre os possíveis impactos do lançamento desses efluentes e formas de atenuação desses impactos.
A equipe constatou que os efluentes contínuos e da despesca contribuem para uma elevação do pH, turbidez, sólidos suspensos, condutividade elétrica, fósforo total, clorofila a, amônia total e alcalinidade total no corpo receptor: “os valores de sólidos suspensos totais, fósforo total, amônia total e clorofila a, associados à elevada vazão de descarga durante a despesca, representam alta carga de poluição para os recursos hídricos superficiais, sendo causa potencial de assoreamento do leito e eutrofização das águas, principalmente nos meses de junho a dezembro, quando não ocorrem chuvas e a vazão do rio é reduzida”.
Os pesquisadores verificaram também que os sólidos suspensos totais, sólidos sedimentáveis, pH e amônia total na despesca apresentam concentração que ultrapassa os níveis máximos estabelecidos pela legislação federal e estadual para o lançamento de efluentes diretamente em corpos hídricos. “É importante observar que o impacto da carga poluidora da despesca é maior devido a todo o volume do viveiro ser lançado diretamente em corpos dágua da região do Baixo Jaguaribe num curto espaço de tempo”, afirmam no artigo.
Dessa forma, eles ressaltam a necessidade de tratamento prévio do efluente gerado pela carcinicultura através de alternativas que também contemplem o uso de bacias de sedimentação, recirculação e/ou reúso da água nas fazendas da região. “Sendo o Baixo Jaguaribe uma região de intensa atividade agrícola, o reúso dos efluentes para irrigação torna-se a alternativa que pode contemplar o uso racional da água, economia de fertilizantes e redução da poluição hídrica. A recirculação, por sua vez, vem racionalizar o consumo da água, otimizar os custos com outorga e com a energia para a captação, além de reduzir o lançamento de altas cargas de nutrientes e matéria orgânica nos corpos receptores”, destacam no artigo. (Agência Notisa, 03/01)