O ano em que ...a natureza se vingou...
2006-01-03
Em 2005, catástrofes naturais de grandes proporções serviram para
colocar um pouco de humildade na soberbia humana. A tecnologia moderna,
usada para dobrar a natureza em benefício do homem, revelou-se
impotente diante das forças geológicas e climáticas. De várias formas, fenômenos naturais foram agravados pela ação humana.
Causado por um terremoto no fundo do oceano, um tsunami devastou o litoral de sete países asiáticos, matando 225 000 pessoas, na virada do ano. Foi, de longe, o mais letal da história. O que destruiu Lisboa, em 1755, matou 100 000 pessoas. O grande número de vítimas é o resultado da ocupação desenfreada e do desmatamento nas regiões costeiras no sul da Ásia.
A devastação causada pelo furacão Katrina, que varreu o sul dos Estados Unidos e forçou a evacuação de Nova Orleans, em agosto, foi ampliada pela ocupação e destruição dos mangues que protegiam a costa americana. O custo em vidas do terremoto na Caxemira, em outubro, por sua vez, foi conseqüência, de certa forma, do aumento da população nas montanhas do Himalaia.
O terremoto de 7,6 graus na escala Richter que atingiu a Caxemira,
território dividido (e disputado) entre o Paquistão e a Índia, deixou
87.000 mortos e mais de 3 milhões de desabrigados em outubro. Foi o sexto
terremoto em número de vítimas dos últimos 100 anos. A região sob
controle paquistanês foi a mais afetada. Vilas inteiras foram
soterradas. Como elas ficam ao longo da Cordilheira do Himalaia, o
isolamento geográfico e o clima atrapalharam os resgates. As estradas
que davam acesso às áreas atingidas ficaram bloqueadas pela destruição
causada pelos tremores e o mau tempo atrapalhava o vôo de helicópteros
de resgate. O Exército paquistanês levou dias para começar a busca por
sobreviventes soterrados sob as casas. Na falta de ferramentas e
tratores, os moradores das vilas retiravam os escombros com as mãos
para tentar salvar parentes.
O furacão Katrina, que desabou sobre o litoral americano do Golfo do
México no fim de agosto, colocou à prova a dispendiosa estrutura
montada pelo governo de George W. Bush para ser acionada em situações de
emergência. Mais de 1.300 pessoas morreram. Em Nova Orleans, na
Louisiana, a tragédia já era anunciada: a cidade fica abaixo do nível
do Rio Mississippi e do Lago Pontchartrain e é protegida por uma rede de
diques. O furacão fez a água ultrapassar as barreiras e inundar 80% de
Nova Orleans. O volume de água nas ruas da cidade era suficiente para abastecer São Paulo por dois meses. Durante dias, as equipes de resgate não deram conta de socorrer milhares de pessoas – na maioria negros e pobres – refugiadas em estádios ou isoladas em suas casas. A intensidade do Katrina trouxe à tona um dos perigos do aquecimento global. Em 2005, estudos científicos mostraram que os furacões são cada vez mais freqüentes (a média anual aumentou de cinco para 7,8 no Atlântico) e potentes, devido ao aquecimento global, para o qual contribui a emissão de gases poluentes.(Veja 01/01/06)