Willie Nelson produz biodiesel e aponta o caminho da sustentabilidade
2006-01-03
O Mercedes do cantor country norte-americano Willie Nelson exala cheiro de amendoim ou batata frita quando em movimento. Enquanto Bono Vox, da banda irlandesa U2, tenta fazer presença social com políticos e Bob Geldof promove e toca em concertos beneficentes, Willie Nelson deu luz ao seu próprio combustível alternativo. É o chamado BioWillie. E como o BioWillie, Nelson, de 72 anos, conseguiu dar vazão a suas duas preocupações: seu amor pelas famílias do campo e seu desdém pela guerra contra o Iraque.
BioWillie é um biodiesel que pode ser fabricado com vários tipos de grãos e rodar em um motor a diesel comum. Parece uma piada, pois um grande número de negócios e de cidades e Estados norte-americanos modificaram seus meios de transporte para poder usar biodiesel, desde o ano passado. O bom é que um combustível doméstico pode dar lucro aos produtores rurais e ainda ajudar o meio ambiente, embora ambientalistas não sejam universalmente entusiastas disto.
"Eu sabia que nós precisávamos ter algo que nos preservasse de ser tão dependente do petróleo estrangeiro, e quando ouvi falar em biodiesel, uma luz veio e disse: Ei, aqui está o futuro dos produtores rurais, o futuro do meio ambiente, o futuro dos caminhoneiros”, disse Willie Nelson, em uma entrevista concedida neste mês. “Parece ser bom para o mundo todo se pudermos começar a cultivar nosso próprio combustível ao invés de começar guerras por ele”, acrescentou.
Retorno às origens
De certa forma, é um retorno às origens do motor a diesel; alguns dos primeiros motores de Rudolf Diesel eram abastecidos com óleo de amendoim, há mais de um século.
Na semana passada, uma companhia operadora de carga que atua no Porto de Seattle informou que para abastecer seus equipamentos, no ano que vem, compraria 800 mil galões de biodiesel, a maioria uma mistura conhecida como B20, que é 80% diesel convencional. Desde o final de setembro último, o Estado de Minnesota requer que quase todo o diesel lá vendido seja 2% de biodiesel, e Cincinnati começou usando uma mistura de 30% de biodiesel, o B30, em seus ônibus urbanos, devido a preocupações sobre a escassez de combustível depois da passagem do furacão Katrina.
O biodiesel pode custar US$ 1 por galão a mais que o diesel convencional quando puro, embora seja vendido tipicamente como B20. Os preços podem variar dependendo do volume e da região. O BioWillie estava sendo vendido por US$ 2,37 o galão, no final de Dezembro. No Texas, fica a sede administrativa de sua empresa, a Willie Nelson BioDiesel. O preço do BioWillie é apenas quatro centavos de dólar mais caro do que o convencional que está sendo vendido em estações de abastecimento próximas.
O BioWillie visa principalmente aos caminhoneiros e é geralmente vendido como B20 (biodiesel puro que pode congelar em temperaturas mais frias). O combustível de Nelson é atualmente vendido em 13 postos de abastecimento em quatro Estados (com o Texas tendo o maior número deles), e abastece os caminhões e ônibus de shows do cantor.
Se o BioWillie demonstra algo, é que a combinação das guerras do Oriente Médio, do aquecimento global e dos altos preços dos combustíveis levou muitas pessoas a oferecerem soluções para a escassez de energia no mundo. Dependendo de para quem você pergunta, a resposta é que, um dia, os carros serão todos movidos a energia natural, seja hidrogênio, eletricidade, gás natural ou etanol. (NY Times, 30/12)