Curupira, Quimera, Galileu, Rio Pardo...
2006-01-03
Nunca na história de Mato Grosso o crime foi combatido com tanto rigor quanto em 2005 – ao menos na quantidade de operações e detidos. Durante todo o ano, a Polícia e o Ministério Público conseguiram levar para a cadeia mais de 400 pessoas acusadas de toda sorte de delitos, desde extração ilegal de madeira a fraude em concurso público. As prisões tiveram o apoio da maior parte da sociedade, mas denúncias de excessos cometidos pelas autoridades judiciárias colocaram a OAB em choque com a Justiça Federal.
Na madrugada do dia 2 de junho, centenas de policiais federais saíram às ruas para dar início a uma das mais importantes e, por que não dizer, a mais grandiosa operação já realizada pela polícia em Mato Grosso. A partir de denúncia do Ministério Público Federal, o juiz Julier Sebastião da Silva decretou a prisão de 129 pessoas, número que subiria nos dias seguintes, conforme o andamento das investigações. A Operação Curupira, como foi chamada, resultou na prisão dos dois principais dirigentes de órgãos ambientais no Estado.
O então presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema), Moacir Pires, foi preso em sua casa, sob acusação de conceder licenças ambientais em áreas protegidas. No mesmo dia, o governo o exonerou. Na região norte, agentes federais prenderam o então gerente executivo do Ibama em Mato Grosso, Hugo Werle, também exonerado no mesmo dia.
Gravações telefônicas entre dois denunciados sugeriam que Werle teria pedido propina para liberar projetos junto ao órgão. Ele também foi acusado de arrecadar recursos ilegais para o PT, partido ao qual era filiado. Atualmente Pires e Werle respondem o processo em liberdade. O episódio precipitou a criação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) em substituição à Fema.
As investigações concluíram que uma rede de corrupção havia se entranhado na esfera pública havia pelo menos uma década. O esquema envolvia 600 madeireiras, dezenas de despachantes, além de servidores da Fema e do Ibama. A Operação Curupira trouxe a Cuiabá o presidente do Ibama, Marcus Barros, que decretou intervenção federal no órgão por 60 dias e exonerou 11 servidores que ocupavam cargos comissionados.
A Curupira deu origem a mais duas operações: a Curupira II e a Rio Pardo. Esta última, desencadeada em 29 de novembro, culminou na decretação da prisão temporária de 77 pessoas, entre elas o então presidente da Agência Municipal de Habitação, Oscar Soares Martins, solto cinco dias depois.
No dia 21 de setembro, era a vez do Ministério Público Estadual desencadear outra grande operação, com o objetivo de debelar um esquema de sonegação criado por servidores corruptos da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz). O rombo nos cofres públicos chegou a R$ 400 milhões. No primeiro dia de operação, nada menos que 17 servidores foram parar na cadeia.
Uma semana antes, um grande esquema de corrupção dentro da esfera pública também veio à tona. A Operação Tsunami descobriu uma prática fraudulenta dentro da Companhia de Saneamento de Cuiabá, conhecida como “máfia do cloro”. Sete pessoas acabaram presas sob a acusação de fraude na licitação para a compra de produtos.
Em maio foi a vez da Polícia Civil colocar em prática a Operação Galileu, que levou para a cadeia uma quadrilha que havia nove anos vendia gabaritos para concursos e vestibulares de diversos estados. (Diário de Cuiabá, 31/12)