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2006-01-03
Todos os olhos estão voltados para a Amazônia, mas, grande parte das informações que podem ser retiradas dessa observação, com a ajuda de imagens e mapas sensíveis gerados por satélites e radares, ainda são pouco exploradas no Brasil. A boa notícia, porém, é que hoje se pode fazer quase tudo com a ajuda do sensoriamento remoto: desde a contagem de espécies de algas distribuídas na região ao controle de focos da malária, passando pelo acompanhamento, em tempo real, de hábitos de peixes-boi.

O assunto foi o tema da mesa redonda Observação da Amazônia por Satélite, durante no 1º Congresso Internacional do Programa Piatam (Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás no Amazonas), ocorrido em Manaus (AM), de 11 a 15 de dezembro. No debate, os especialistas Pedro Walfir, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do projeto Piatam mar (Potenciais Impactos Ambientais no Transporte de Petróleo e Derivados na Zona Costeira Amazônica), Edgar da Silva Filho, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Venerando Amaro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Evlyn Morais, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Lacunas - "Temos hoje cerca de 7,8 milhões de quilômetros quadrados de vazio cartográfico sobre a Amazônia. O governo precisa de imagens para monitoramento ambiental, vigilância territorial e defesa. A criação de um sistema único de compartilhamento economizaria muito a compra de imagens", alerta Edgar Filho, do Centro Gestor e Operacional do Sipam.

Em funcionamento desde 2003, como resultado do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), o Sipam colabora com diversos órgãos governamentais e instituições de pesquisa, através da ação de três aviões, uma central de processamento de imagens em Manaus, dez radares meteorológicos espalhados pela Amazônia Brasileira e duas estações receptoras, em Brasília (DF) e Manaus, que adquirem imagens de fontes de satélites como o Spots e Radarsat.

Com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e Embrapa, o Sipam está criando um Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento. Com o Inpe, Exército brasileiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Comando Regional de Polícia Militar (CPRM), luta pelo projeto Radam II, que objetiva levantar imagens de toda a Amazônia Legal, ou de, pelo menos, quatro milhões de quilômetros quadrados. Isso ampliaria a ação do sistema, que vem atuando em monitoramento em áreas de garimpo e desmatamento, pistas ilegais de pouso e outras – o Sipam auxiliou recentemente os casos dos ataques de morcegos na cidade de Portel, no nordeste paraense, e a crise do assassinato da missionária Dorothy Stang, em Anapu, na região da Terra do Meio, também no Pará.

Satélite desvenda hábitos do peixe-boi - "Aliando imagens de satélite a coletas locais, podemos mapear a distribuição de gêneros de plantas aquáticas. Hoje, até um mapa de suscetibilidade à malária já é possível", afirma Evlyn Morais, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, lembrando que a tecnologia espacial pode contribuir muito para o entendimento de processos que precisem não apenas de imagens, mas também de monitoramento constante ao longo de curtos espaços de tempo e com grande variação geográfica.

Um bom exemplo vem de pesquisa do Instituto Mamirauá/MCT, no Amazonas. Com ajuda do Inpe, oito peixes-boi monitorados por telemetria vêm revelando dados valiosos sobre hábitos da espécie - como a migração de até 150 quilômetros em busca de alimentos, entre as áreas de terra firme e planície, ao sabor das cheias e vazantes.

"Hoje se pode medir a dimensão do pulso de alagações em áreas amazônicas, que podem chegar a um milhão de quilômetros quadrados e são de difícil acesso. Além disso, bóias capazes de transmitir aferições locais ajudam hoje a calibrar imagens de satélite, através de dados simples como a turbidez das águas, intensidade de ventos e a concentração de clorofila", comemora a pesquisadora do Inpe.

Águas Outro exemplo da ajuda de imagens de satélite na pesquisa vem do litoral do Rio Grande do Norte, onde imagens Landsat estão mostrando vestígios de velhas linhas de praia, submersas 30 quilômetros mar adentro ao longo de centenas de anos de ação natural. Esse é um dos resultados da rede de pesquisa coordenada por Venerando Amaro, da UFRN, que entre outras coisas está traçando mapas para monitoramento ambiental e do desgaste da plataforma continental da área da Costa Branca, uma das mais ricas e ao mesmo tempo mais críticas do litoral potiguar, justamente pela concentração de pontos de exploração petrolífera.

"O entendimento do processo erosivo entre a Ponta do Tubarão e a Barra do Corta Cachorro é fundamental, pois a ação de ondas, ventos e marés expõe tubulações que há 15 anos estavam a um metro de profundidade", lembra Amaro. (MCT- Ministério de Ciência da Tecnologia, 02/01)

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