O Pantanal não é mais o mesmo
2006-01-02
O Brasil fecha 2005 com o diploma de que está fazendo o possível para riscar do mapa o Pantanal até 2050.
O esforço começa na Bacia do Alto Paraguai, de onde vêm as águas que montam um dos maiores espetáculos de vida selvagem ainda em cartaz no planeta. Rio acima, nada menos de 59 municípios já acabaram com a vegetação nativa em mais da metade de seus territórios. Mas essa é só a média regional. E a média, como simplificação estatística, não conta tudo o que acontece. Não diz, por exemplo, que 22 municípios ultrapassaram os 80% de desmatamento. E 19 estão além dos 90%, a porcentagem simbólica que marca a fronteira da extinção de uma paisagem nativa. Isso no planalto mato-grossense. Na planície, onde fica o Pantanal, restam 83% da vegetação original.
É bastante? Não, porque os índices de devastação estão subindo nesta década como uma nova modalidade de inundação. Do patamar de 1,5% por ano em que se empoleiravam até 1993, saltaram agora para 2,3%. Como se ali as derrubadas não tivessem um obstáculo natural expressamente defendido pela Constituição como patrimônio do povo brasileiro. De todo o povo brasileiro, diga-se de passagem, e não só de quem vê naquele cenário o potencial econômico das hidrelétricas, hidrovias, mineradoras, plantações de soja, sem falar dos pastos de capim africano que vão rapidamente substituindo os campos nativos. (Marcos Sá Correa - O Estado de S.Paulo 29/12/05)