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2006-01-02
Por Braulio Pikman* A cada nova série de eventos climáticos atípicos que ocorrem no Planeta, a questão da mudança climática ganha mais destaque no âmbito dos agentes formadores de opinião, provocando impacto crescente na percepção das empresas sobre como se posicionar. Os mecanismos do protocolo de Kyoto para mitigação das emissões de gases do efeito estufa são uma resposta tímida ao enfrentamento da questão, mas constituem uma oportunidade de negócio que tem sido utilizada de forma pouco proveitosa.

Ainda que o número de projetos validados pelas Entidades Operacionais Designadas (DOE) esteja duplicando a cada cinco meses - de acordo com estatísticas do Banco Mundial, serão mais de 300 projetos validados em dezembro de 2005 -, o volume de novas metodologias aprovadas representa menos de 20% do total submetido (mais de 130 apresentadas e pouco mais de 23 aprovadas). As elevadas taxas de insucesso estão levando a uma pausa para reflexão por parte dos proponentes de novos projetos, sobre como superar as principais limitações identificadas.

Além de maior velocidade no processo de análise da Autoridade Nacional Designada (etapa prévia ao envio dos projetos ao comitê executivo da Organização das Nações Unidas - ONU), torna-se necessário aprofundar o mecanismo "learning by doing" (aprender fazendo). Todas as partes envolvidas participam deste aprendizado pela ação e deveriam encarar seus próprios erros e, principalmente, os alheios como um processo natural de melhoria contínua. A exacerbação de espíritos no mercado nacional do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) respinga nas instituições internacionais e prejudica principalmente as empresas, consultores e membros do governo brasileiro.

O que se faz necessário é democratizar o acesso à informação - é impressionante que a maioria absoluta dos proponentes de projetos desconheça as informações disponíveis no portal das Nações Unidas (www.unfccc.int) -, promovendo de forma isenta o debate entre as partes, para que nossos projetos tenham mais qualidade em vista da evolução contínua experimentada neste processo por países e empresas. Projetos MDL não deveriam ser um fim em si mesmos. A gestão integrada de emissões atmosféricas de gases do efeito estufa e poluentes regulados é um tema de maior alcance do que os mecanismos de Kyoto (CDM e JI) e constitui um caminho natural para grandes empresas preocupadas com a governança corporativa.

Esta gestão é composta por um conjunto de ações que pode ser sistematizado em três grupos: diagnóstico corporativo, composto pela elaboração do inventário de emissões e atribuição de responsabilidades internas (accountability), comunicação das emissões de acordo com padrões internacionais, para obtenção do reconhecimento dos valores informados por organismos oficiais nacionais e internacionais, e gerenciamento das emissões com implantação de metas de redução, identificação de oportunidades de redução e participação dos mercados em que reduções de emissão significam valor (MDL - ONU, CCx - Chicago Climate Exchange, Sistema de Compensação de emissões de poluentes do Estado de São Paulo).

A gestão integrada das emissões atmosféricas pode transformar-se em muito mais do que um bom negócio. Receitas advindas de ações de eficiência energética, mitigação das emissões de poluentes regulados e projetos MDL podem multiplicar ganhos e agregar benefícios intangíveis, como maior reconhecimento da marca, redução de riscos sociais e a satisfação dos chamados "stakeholders".
* Braulio Pikman é Coordenador de Energia e Mudanças Climáticas da ERM Américas e membro do Painel Metodológico do Comitê Executivo das Nações Unidas

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