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2005-12-30
O setor monopolista de produção de eletricidade da Rússia é o que mais produz gases de efeito estufa naquele país, gerando um volume de dióxido de carbono comparável ao da Grã-Bretanha. Das onze zonas de estações de produção de energia da Rússia, a companhia Sistemas Unificados de Energia lança cerca de 2% de todo o dióxido de carbono gerado por meio antrópico (de origem humana), o qual se acumula na atmosfera.

Mas a usina, mesmo sendo a maior produtora de gás carbônico do país, tem um faturamento anual de US$ 1 bilhão. Este é um dos paradoxos do Protocolo de Kyoto para companhias de eletricidade da Rússia e de outros países da Europa Ocidental que estão entre os maiores produtores de gases de efeito estufa, os quais ganham centenas de milhões de dólares vendendo seus direitos de emissão de dióxido de carbono.

O Protocolo de Kyoto, negociado em 1997 e adotado por 36 nações industriais, estabeleceu um mecanismo que visa à obtenção da forma mais barata de controle das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global. A idéia era que os países que produzem mais do que os limites impostos pelo tratado pudessem atingir suas metas por meio da compra dos direitos de poluição de produtores em outros países onde os resultados do controle fossem mais fáceis e menos caros.

Não está claro quão bem-sucedida esta abordagem pode ser. Mas como as companhias russas operam equipamentos desatualizados e ineficientes, elas podem facilmente e de forma barata melhorar de nível. Como resultado, o processo de Kyoto emergiu como potencial fonte de ganhos para as maiores companhias de energia e manufatura russas, conforme executivos e analistas do setor. Elas têm contratado consultores e feito inventários de fontes de poluição para obter créditos e abrir divisões de venda de carbono.

A Energia Unificada e a Gazprom, que é o monopólio de gás natural da Rússia, juntas, lançam mais do que a metade dos gases de efeito estufa do país. Ambas têm unidades de comércio de carbono. “Estamos intensivamente interessados no mercado de comércio de carbono”, afirmou Andrey V. Gorkov, líder da divisão de comércio de carbono da Energia Unificada, durante a cúpula de Montreal das Nações Unidas, realizada no início do mês. No evento, os países membros de Kyoto aprovaram formalmente as regras de comércio de emissões.

O protocolo requer que 36 nações industriais – com alvos variáveis – reduzam suas emissões de gases estufa abaixo dos níveis de 1990, em cinco anos, de 2008 a 2012. Para a União Européia, a meta é reduzir as emissões para 8% abaixo dos níveis de 1990. Numa indicação de quanto robusta a demada por emissões de crédito pode ser, neste ano, a União Européia está 6% acima dos níveis de 1990. Os Estados Unidos, que gera um quinto dos hases de efeito estufa, mas que não é signatário do Protocolo de Kyoto, está 19% acima dos limites teóricos.

A Rússia, em contraste, sofreu um colapso econômico na década de 90, e está 43% abaixo dos limites de 1990. De fato, a Rússia não espera atingir os níveis de emissão de 1990 até em torno de 2020, o que atesta a severidade do revés econômico do qual ainda se recupera. Ao mesmo tempo, a indústria russa está gerando uma energia altamente poluente, de forma que poucas melhorias baratas andam paralelamente com a redução de emissões. Portanto, com equipamento obsoleto e com uma sobra de emissão de carbono que pode gerar, as companhias russas têm se tornado atraentes para companhias européias, canadenses e japonesas que precisam de emissão de créditos.

O ritmo dos negócios está, por isto, crescendo no escritório de Gorkov, na sede da Energia Unificada, um prédio de concreto localizado nas vizinhança de Moscou. Analistas dão crédito ao rastreamento feito pelo chefe-executivo da companhia, Anatoly B. Chubais, reconhecendo o potencial lucrativo sob as diretrizes de Kyoto. Chubais, um ex-primeiro-ministro, ajudou a negociar o pacto quando estava no governo.

A divisão de 16 empregados da companhia de Gorkov, que se chama Fundo de Energia do Carbono, varre a Internet à procura de companhias ou de países que precisam de créditos de emissão de carbono. Ela também busca identificar e estudar áreas suas onde pode reduzir a poluição. A companhia assinou seu primeiro acordo em junho, com a Agência de Proteção Ambiental da Dinamarca. (NY Times, 28/12)

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