(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-12-30
O Bird (Banco Mundial) quer apoiar o Brasil em iniciativas para negociar o carbono do chamado desmatamento evitado, mecanismo pelo qual o país receberia dinheiro vendendo créditos de emissão para reduzir a devastação da Amazônia. Quem diz é Vinod Thomas, que em setembro deixou o cargo de diretor do banco para o Brasil para assumir a diretoria de avaliação de operações do órgão, em Washington.

Thomas, um economista indiano de 56 anos, diz que o mercado mundial de carbono pode crescer nos próximos anos "como a internet", e que o Brasil, dono da maior floresta tropical do mundo --e das taxas mais altas de desmatamento-- seria o país que mais ganharia com isso. "Ninguém chega nem perto. Isso deveria ser parte do debate eleitoral."

O economista, que durante quatro anos foi responsável pela política de desenvolvimento do Bird para o país, acaba de lançar o livro "O Brasil Visto por Dentro - Desenvolvimento em uma Terra de Contrastes", no qual sustenta uma visão que a ortodoxia da política econômica brasileira ainda se recusa a compartilhar: a de que a manutenção do patrimônio natural nacional é o único jeito de acabar com a pobreza.

"É impossível ter crescimento de qualidade de longo prazo sem proteção ambiental, sem medir a poupança total -não só a poupança financeira. Quer dizer, você pode ter uma poupança de 15% a 17% do PIB, mas se ao mesmo tempo você destrói o patrimônio você só tem 10%. E com 10% você não vai crescer. E a experiência do Brasil é chave para esse debate", afirmou, acrescentando que a taxa anual de desmatamento deveria fazer parte do IDH brasileiro.

Em entrevista à Folha durante uma passagem recente por São Paulo, Thomas falou do "esverdeamento" progressivo do Bird, criticando a instituição por erros do passado --como o financiamento à pavimentação da BR-364. Sorriu amarelo quando questionado a respeito da concessão sob categoria de "risco ambiental moderado" de um empréstimo recente do IFC (braço do banco para a iniciativa privada) à expansão da soja em Mato Grossense. "É fundamental aprender as lições de erros ou dilemas para uma nova etapa", contornou.

E se recusou a falar sobre a transposição do São Francisco, obra que teve parecer contrário do Bird em 2001 e que foi novamente criticada por um estudo técnico do banco neste ano. Em seu livro, Thomas afirma que a obra é cara demais e que a melhor solução para o problema da seca seria concluir obras que já estão em andamento. Instado a se posicionar sobre o assunto, limitou-se a sorrir e mostrar o livro.

Folha - No ano passado, o sr. anunciou juntamente com a ministra Marina Silva um empréstimo de US$ 1,2 bilhão para garantir que não faltasse dinheiro para a área ambiental. O que aconteceu com esse dinheiro, uma vez que o Ministério do Meio Ambiente continua com verbas contingenciadas?

Vinod Thomas - Esse empréstimo é um dos primeiros do mundo na área de ambiente. Geralmente temos assistências técnicas, empréstimos pequenos, mas a idéia desse empréstimo era dar um apoio à economia total para dar uma prioridade para o ambiente. Então, o empréstimo de US$ 500 milhões era parte de um programa de US$ 1,2 bilhão em dois ou três anos. Em contraste com o empréstimo físico, que você põe numa escola ou para fazer uma ponte, isso era um empréstimo para o país. A Fazenda e o Banco Central ficaram com o dinheiro com o entendimento de que o Meio Ambiente receberia apoio dentro dos programas do governo. A grande pergunta é: isso está acontecendo ou não? Eu diria que, na área federal, o Ministério do Meio Ambiente está fazendo o que é possível dentro de parâmetros de superávit primário e prioridades em outras áreas.

Folha - Mas a idéia não era justamente garantir que o Meio Ambiente fosse ficar imune às metas de superávit primário?

Thomas - Ele não pode ser imune ao resto das questões do país. Mas com certeza o Meio Ambiente estava recebendo menos do que deve. A porcentagem do PIB que o Brasil gasta com ambiente é uma das menores do mundo.

Folha - O banco tem algum controle sobre esse dinheiro?

Thomas - Esse dinheiro vem como um pacote. A idéia era fazer um segundo em 2006 ou 2007, depois um terceiro. Existem metas para o país, não do Banco Mundial. Mas nós estudamos essas metas e decidimos que algumas coisas foram feitas para justificar o primeiro empréstimo.

Folha - Qual é a perspectiva para o segundo empréstimo?

Thomas - Quando eu saí [da diretoria para o Brasil], estava conversando com meus colegas e o ministério para planejar o segundo. Honestamente, eu não sei se as condições estão suficientes já para o segundo. Isso vai depender do governo e do contexto do ano que vem, que é ano eleitoral. Mas veja uma pequena ironia: tivemos neste ano uma queda no crescimento da taxa de desmatamento na Amazônia. O Brasil pode e deve fazer uma série de empréstimos para o ambiente, para beneficiar o país. Quase 80% do patrimônio dos pobres está em recursos naturais. Então, para reduzir a pobreza, o investimento em recursos naturais é melhor que a destruição desses recursos.

Folha - E por que o governo falha em captar essa lógica?

Thomas - Há dois ou três fatores: primeiro, há a questão de curto prazo versus longo prazo. E o curto prazo sempre ganha essa briga. E, sem dúvida, no longo prazo os pobres ganhariam com a manutenção dos recursos naturais. Segundo, há uma questão política, de falta de direitos de propriedade. Quando você não tem uma definição clara de quem é o dono da terra, o incentivo para manter é muito baixo, porque você não sabe se vai ter amanhã. E, terceiro, alguns tipos de ganho são difíceis de captar, em comparação, por exemplo, com o agronegócio. Eu não mencionei a situação global, mas só para agregar: dada a situação atual, a cada cinco anos o impacto dos desastres climáticos é maior. O Brasil pode ganhar para os brasileiros e ao mesmo tempo fornecer um benefício global trocando carbono por dinheiro. Isso não é fácil, mas nós pensamos em tantas coisas para o futuro, como a educação -por que não pensar no futuro da proteção ambiental?

Folha - O Bird tem planos de expandir o mercado de carbono?

Thomas - Sim, mas para isso o apoio de países como o Brasil é fundamental. Já existe uma discussão, depois da COP-11 (Conferência das Partes) da Convenção do Clima da ONU. Costa Rica e Brasil já estão falando sobre isso. Hoje você já pode obter benefícios da plantação de novas florestas. Mas, dando valor às florestas em pé, o Brasil ganharia. Com um risco: se o desmatamento continuar alto, o ganho fica prejudicado. O banco apoiaria esse tipo de plano com muito interesse. E o Brasil seria o país que mais ganharia com isso. Ninguém chega nem perto. Isso deveria ser parte do debate eleitoral, do debate nacional.

Folha - Como seria esse apoio?

Thomas - Acho que a primeira questão é como se vai medir [o carbono que florestas em pé deixam de emitir]. Deveria haver uma auditoria independente. Então, uma instituição como o banco tem um papel fundamental, de facilitador: de estabelecer a linha de base e dizer que, baseado nela, a situação está melhorando ou piorando. E o mercado mesmo, o mercado financeiro. Aí temos experiência já, com o carbono. E acho que o mercado poderia crescer muito rapidamente, porque nós já temos vários instrumentos em prática. E o Protocolo de Kyoto, mesmo em 2012, na próxima etapa, tem de incluir esse item.

Folha - Existe alguma projeção do banco de quanto esse mercado pode crescer daqui para 2012?

Thomas - Os números são incríveis. Estamos falando de um nível muito baixo hoje, porque o mercado é muito incipiente. Pode ser uma mudança muito grande, como aconteceu com a internet.

Folha - No seu livro o sr. propõe uma moratória à pavimentação de novas estradas na Amazônia. Isso é curioso vindo de alguém que representa uma instituição com um histórico negativo de financiamento a obras de alto impacto ambiental.

Thomas - A experiência do banco nos anos 1970 e 1980 não foi boa. Primeiro, houve uma destruição muito séria e, num segundo momento, o banco fez empréstimos para ajudar Mato Grosso e Rondônia num plano de infra-estrutura com proteção. Nosso financiamento resultou em boa estrutura, mas não em proteção. Hoje a idéia não é evitar a infra-estrutura, mas colocar com mais prioridade a mitigação.

Folha - O sr. acompanhou a polêmica recente sobre o empréstimo para a expansão da soja em Mato Grosso, que foi objeto de uma auditoria pelo Escritório de Cumprimento do IFC. Isso não contraria esse "esverdeamento" do Bird?

Thomas - Nesse caso, os resultados do Estado com desmatamento são tão preocupantes que, para uma próxima etapa de apoio, mesmo com a idéia de apoiar o setor privado inovador, o banco deve ver com cuidado se se trata de inovação para produzir e proteger ou não. É fundamental aprender as lições de erros ou dilemas para uma nova etapa.

Folha - O sr. identificaria um ponto de inflexão nas políticas do Bird, a partir do qual se começou a levar em conta questões ambientais?

Thomas - Isso aconteceu principalmente a partir da década de 1990. Hoje a grande pergunta é: é possível crescer rapidamente com proteção ambiental? Não só é possível, como é impossível ter crescimento de qualidade de longo prazo sem proteção ambiental, sem medir a poupança total -não só a poupança financeira. Quer dizer, você pode ter uma poupança de 15% a 17% do PIB, mas se ao mesmo tempo você destrói o patrimônio você só tem 10%. E com 10% você não vai crescer. E a experiência do Brasil é chave para esse debate.

Folha - E quais seriam os indicadores de que tanto o Brasil quanto o Bird estão no caminho certo?

Thomas - Medir a qualidade de vida dos brasileiros nas áreas urbanas e rurais, incluir junto com o IDH um indicador de qualidade de água, qualidade de saneamento e indicadores de desmatamento -três ou quatro fatores-chave para o país que estão faltando. Temos indicadores como matrículas escolares e mortalidade infantil, mas qual é a qualidade de vida uma vez que a criança segue viva, ou qual é a qualidade da escola? Precisaríamos incluir dois ou três indicadores na área social e dois ou três na área ambiental, e colocar isso junto com o PIB. Isso seria a meta do Brasil. (Folha Online, 29/12)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -