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2005-12-30
Quantos anos têm as árvores da Amazônia? Até uma pergunta aparentemente simples como essa se torna complexa quando o ecossistema em questão é a maior floresta tropical do planeta. Segundo pesquisadores brasileiros e americanos, é possível que até metade das árvores amazônicas tenham mais de 300 anos de idade, com as mais velhas podendo chegar a mil anos. Os resultados, publicados na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, são motivo de controvérsia na comunidade científica da Amazônia. Não se trata de uma pergunta trivial: a estimativa da idade e do ritmo de crescimento das árvores tem implicações importantes para a compreensão dos ciclos climáticos e de carbono da Amazônia, assim como para a sustentabilidade das atividades madeireiras na região. A pesquisa comparou dados de datação de árvores via aumento de diâmetro e via radiocarbono em áreas de floresta primária de Santarém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC).

"Contrariando alguns trabalhos que acreditavam que a floresta era muito dinâmica, por causa da grande quantidade de água e luz disponíveis, mostramos que a floresta tem um crescimento muito lento e uma quantidade muito maior de árvores velhas", resume a pesquisadora Simone Vieira, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP). As mais vagarosas crescem em torno de 2 milímetros de diâmetro por ano, enquanto as mais apressadas podem aumentar até 2 centímetros por ano.

A conseqüência disso, segundo Simone, é que a capacidade de absorção de carbono da floresta pode estar sendo superestimada nos modelos climáticos atuais. "Na verdade, a floresta seqüestra carbono numa velocidade muito menor do que a gente supunha." As árvores crescem durante toda a vida e, para isso, absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera - um processo essencial para a sustentabilidade climática do planeta. A lógica seria que, se elas crescem mais devagar e têm uma expectativa de vida maior, sua absorção de carbono seria mais duradoura, porém mais lenta. "Quando você remove a floresta, está retirando um carbono que tem centenas de anos", afirma Simone.

As conclusões são polêmicas dentro do próprio Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), megaprojeto de pesquisa no qual o trabalho está inserido. "A floresta não é a mesma coisa que um depósito de carvão. Estamos falando de carbono em organismos vivos e altamente dinâmicos", diz o especialista Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Datações feitas por anéis de crescimento (dendrocronologia) em mais de mil árvores na Amazônia Central pela equipe da pesquisadora Maria Teresa Fernandez Piedade, também do Inpa, sugerem que as idades máximas não ultrapassam 600 anos. "Esses estudos mostram uma visão bastante diferente daquela obtida com estudos baseados em datações por radiocarbono ou medições repetidas de diâmetro", disse.

Um das principais perguntas do LBA continua sem resposta: a Amazônia é uma emissora ou um sorvedouro de carbono atmosférico? "A conclusão, por enquanto, é que não há conclusão; tem lugares que emitem e lugares que absorvem", diz Nobre. (O Estado de S. Paulo, 29/12)

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