A opção do consumidor em ingerir alimentos mais saudáveis que, ao serem produzidos, não degradam o meio ambiente, é um dos motores do crescimento da agricultura orgânica no País, que deu um salto vertiginoso de 2001 para cá, expandindo-se de 100 mil hectares para 803 mil hectares em 2004, segundo estudo divulgado em fevereiro, no site do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura paulista (Veja quadro nesta página). "Por um motivo ou outro as pessoas começam a se dar conta de que tanto as práticas orgânicas quanto biodinâmicas, que é o nosso caso, representam maior qualidade de vida", define o agricultor orgânico e biodinâmico Paulo Cabrera, um dos gestores da Estância Demétria, de Botucatu (SP), que há 30 anos se dedica à agricultura ambientalmente sustentável. "Ao optarmos por esse tipo de produção buscamos resgatar a vitalidade dos alimentos, algo que não é fácil medir, mas se percebe no sabor e na qualidade do que está sendo ingerido, além de preservar o ambiente."

Essa opção os agricultores orgânicos, principalmente os ligados há mais tempo à atividade, procuram trazer para suas próprias vidas. É o caso dos moradores da Estância Demétria e também do agricultor orgânico Guaraci Diniz Jr. E da sua esposa, Cecília Helena Ferraz, do Sítio Duas Cachoeiras, em Amparo (SP), além do produtor do Sítio Terra & Saúde, de Ibiúna (SP), Jefferson Steinberg.

CEIAS ORGÂNICAS
No Natal e no ano-novo, não poderia ser diferente. As ceias para celebrar o nascimento de Jesus e a chegada de 2006 estavam programadas para serem elaboradas, no caso da Demétria e do Sítio Duas Cachoeiras, com ingredientes 100% orgânicos. E, no caso do Sítio Terra & Saúde, quase 100%.

"Na verdade, não haverá, nem no Natal, nem no ano-novo, nada muito diferente do que já fazemos todos os dias", diz Guaraci Diniz, acrescentando que ambas as ceias, além de orgânicas, serão 100% vegetarianas. "Vamos tirar praticamente todos os ingredientes do sítio", diz. "Procuramos trabalhar o sítio realmente como um organismo", continua. "Assim, como parte integrante desse organismo, consumiremos o que nós mesmos cultivamos."

O CARDÁPIO
Frutas secas, nozes pecã e macadâmia, torta de batata com shiitake; chutney de manga, arroz, purê de mandioca, saladas, doces de frutas (manga, goiaba, laranja e banana) serão algumas das iguarias que comporão ambas as ceias, das quais participarão Guaraci, sua esposa, e familiares. Alguns outros ingredientes, como vinho, ovos, queijo e vinagre de caqui, vêm de vizinhos, também produtores orgânicos. "A farinha de trigo vem do Sul", diz Guaraci.

Incorporar à ceia e ao dia-a-dia ingredientes produzidos pelos vizinhos, para o produtor, é uma forma de integração. "Fazemos trocas. Eu tenho a manga, as frutas desidratadas, o shiitake e os vizinhos têm os ovos, o queijo, o vinho e o vinagre. Mais do que simplesmente trocar produtos, fortalecemos as relações sociais", ensina.

BIODINÂMICOS
Na Estância Demétria, cerca de 30 pessoas, das quatro famílias residentes, além de funcionários, cinco estagiários e mais alguns moradores do Bairro Demétria, desfrutarão de ceias de Natal e de ano-novo absolutamente orgânicas, conforme conta Paulo Cabrera.

Para o Natal, o cardápio programado compunha-se de sopa de abóbora com grissinis, "que a criançada gosta muito", salada com queijo fresco, tomate, basilicão e azeite, além de pretzels com queijo e manteiga. O prato principal seria frango grelhado ao curry, uva-passa, abacaxi e noz pecã, acompanhado de arroz cateto integral, batata assada no forno com azeite, alho e alecrim. "Todos os ingredientes são orgânicos e produzidos aqui", destaca Cabrera, acrescentando que haveria até um cardápio para vegetarianos: suflê de berinjela com tomate e queijo ralado e um quiche de queijo, acompanhados com vagem e brócolis.

"Haverá também saladas frescas e, como sobremesa, strudel de maçã com sorvete de creme." Já para o ano-novo, o prato principal programado é filé mignon e contra-filé com molho beatrice. Uma das bebidas servidas - nenhuma com álcool - será um frisante de flor de sabugueiro e refresco de rosela e de jabuticaba. "Para as festas de fim de ano fazemos também o stolen, que é um pão alemão, bem compacto, feito com frutas cristalizadas e castanhas." (O Estado de S. Paulo, 28/12)