Nigéria decreta estado de emergência depois da explosão de um oleoduto da Shell
2005-12-28
Um incêndio vem devastando atualmente uma parte do delta do Níger, a principal zona de produção petroleira da Nigéria. Os testemunhos citados pelos jornais falam de chamas tão altas quanto imóveis de dez andares, e de espessas nuvens de fumaça pretas que escondem o sol quase que por completo.
Este incêndio ocorreu em conseqüência da explosão, na última terça-feira (20/12) de um oleoduto da companhia anglo-holandesa Shell. Por enquanto, os especialistas que foram enviados no local se revelaram incapazes de debelar o fogo.
A Shell só conseguiu iniciar consertos na noite de quinta-feira (22), e ainda apenas numa das quatro linhas de abastecimento que foram atingidas, enquanto ela tivera que fechar três estações de bombeamento assim como o seu principal terminal petrolífero em Bonny. O incidente, que provocou a morte de pelo menos oito pessoas segundo a polícia, não é o primeiro deste tipo, e as suas conseqüências ainda são difíceis de avaliar.
Região instável
A Nigéria é o principal produtor de petróleo da África e o sexto exportador mundial, com 2,5 milhões de barris por dia. Boa parte da sua produção é de "light crude oil". Leve e mais fácil de refinar do que os outros tipos de petróleo bruto, ele é muito apreciado por países como os Estados Unidos, dos quais a Nigéria é o quinto fornecedor.
Mas o delta do Níger é também a região a mais instável do país. Milícias separatistas e piratas nela impõem o domínio da violência, revestindo de vez em quando os desvios de quantidades de petróleo e os seqüestros que elas perpetram de um discurso "anti-imperialista". É verdade que a população vive na miséria, enquanto as poderosas multinacionais retiram os principais lucros da dádiva petroleira, assim como um pequeno grupo de políticos que desviam milhões de dólares todos os anos.
Guerra total
A Shell é o principal alvo dos militantes que garantem estar defendendo a causa das etnias da região contra "a exploração das multinacionais". Mas o movimento, que já havia provocado, em setembro de 2004, um estado de emergência, foi decapitado pela prisão do seu chefe, Mujahid Alhadji Dokubo Asari, atualmente detido na capital, Abuja, que responde a processo por alta traição.
Após ter declarado "uma guerra total", Asari havia conduzido operações contra as companhias petroleiras no comando das suas milícias, cujas armas haviam sido adquiridas por meio dos lucros obtidos a partir dos desvios e do contrabando de petróleo. Uma boa parte dos seus partidários está muito interessada, hoje, em retomar a luta.
Para a Shell, a causa do incêndio é conhecida: num comunicado publicado na terça-feira, a companhia afirmou que a explosão havia sido provocada por uma sabotagem por meio de dinamite do seu oleoduto. Esta versão foi confirmada por testemunhos publicados na imprensa local, os quais garantiram que "homens armados, com a testa cingida com uma faixa vermelha", foram vistos circulando pelas angras com o objetivo de evacuar os habitantes da área antes da explosão.
O presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, decretou na noite de quinta-feira o estado de emergência, confirmando a tese de um atentado. As forças de segurança que foram enviadas para a região --polícia, exército, marinha-- estão em pé de guerra.
Tranquilizando multinacionais
"Nós não abandonaremos este país aos bandidos. Os criminosos devem ser perseguidos, apanhados e punidos", declarou o presidente durante uma reunião com os responsáveis da segurança. Obasanjo tentou principalmente tranqüilizar os dirigentes das multinacionais petroleiras, dizendo-se determinado a garantir a integridade das pessoas e das instalações do setor petroleiro.
O petróleo é o principal recurso da Nigéria, que dele obtém mais de 95% dos seus dividendos nas exportações. Por enquanto, a Shell garante estar perdendo desde a explosão 180.000 barris por dia, ou seja, 7,2% da produção nacional cotidiana. A companhia, que não poderá honrar todas as suas encomendas, afirmou estar em situação de "força maior". UOL Busca - Veja o que já foi publicado com a(s) palavra(s) Petróleo Exportações (Le Monde 24/12/2005)