Importação de pneus usados é retrocesso na política ambiental brasileira, avalia diretor da ANIP
2005-12-27
A aprovação do Projeto de Lei 216/03, no dia 15 de dezembro, na Comissão de
Assuntos Sociais – CAS, do Senado Federal, que prevê a liberação das importações
de pneus usados no País, representa um dos maiores retrocessos na política
ambiental brasileira nos últimos anos. A avaliação é do diretor-geral da
Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), Vilien Soares. – Se
somente neste ano vão entrar 11 milhões de pneus usados no Brasil, mesmo com a
importação sendo proibida por lei, é de se imaginar a quantidade que poderá vir
com a aprovação do Projeto-, diz o diretor da ANIP.
Apesar da aprovação na Comissão de Assuntos Sociais, o Projeto ainda vai passar
por outras Comissões, onde a ANIP lutará para mostrar aos senadores o enorme
prejuízo que a norma provocará sobre o setor de pneumáticos, que prevê
investimentos de US$ 1,2 bilhão até 2007.
Segundo dados da ANIP, as empresas de pneus reformados não têm sequer capacidade
instalada para colocar no mercado o montante de pneus importados. – Se a
capacidade de produção das empresas é de 4 milhões de pneus reformados por ano,
o que é feito com os outros 7 milhões que foram importados?-, questiona Vilien
Soares.
Em 2004, os números de pneus usados importados e de pneus reformados pelas
empresas já eram bastante díspares. Entraram no País 7,6 milhões de pneus usados.
Desse total, apenas 2,5 milhões retornaram para o mercado como pneus reformados.
Ou seja, não se tem notícia de onde foi parar esta diferença.
– Para tentar explicar o destino dos 7 milhões de pneus que não são remoldados,
a associação que representa as empresas do setor tenta confundir os senadores
com números, alegando que a quantidade importada é usada para regular estoques-,
explica Vilien Soares. – A prática de importar uma quantidade de pneus usados
maior do que a capacidade das empresas já ocorre há alguns anos. Portanto, não
faz sentido dizer que isso ocorre para regular estoques. Além disso, apesar de
as empresas reconhecerem que 1 milhão de pneus importados são vendidos como
meia-vida, todos sabem que este número é muito maior-, ressalta.
De acordo com Vilien Soares, o retrocesso na política ambiental brasileira fica
ainda mais evidente se considerarmos que o Brasil tem pneus suficientes para
serem reformados, não havendo necessidade de importação de pneus usados. Segundo
estudo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), há 12 milhões de pneus
usados no País disponíveis para reforma. De acordo com o diretor da ANIP, a
importação representa um desserviço ao País na questão ambiental. – Estamos
trazendo lixo da Europa para o Brasil. Ao invés de reciclarmos nossos pneus,
estamos executando o trabalho dos países desenvolvidos. Por não encontrarem
mercado para pneus reformados, os europeus precisam a todo custo livrar-se dos
pneus velhos. Parece que encontraram mercado no Brasil, com consentimento de
algumas empresas de pneus reformados-, ressalta Vilien Soares.
A Europa é outra ameaça à política ambiental brasileira. No primeiro semestre
deste ano, a União Européia entrou com representação na Organização Mundial do
Comércio (OMC) contra o Brasil, exigindo que o País libere as importações de
pneus reformados produzidos pelos países europeus. – Caso os europeus vençam
este contencioso, o Brasil vai absorver [ainda mais] pneus reformados produzidos
na Europa, o que terá impacto negativo não apenas para os fabricantes de pneus
novos, mas também para o setor de reformas. Pior: teremos que reciclar aqui os
pneus que foram produzidos lá, onde geraram receitas, impostos e empregos-,
explica o diretor da ANIP.
Para o diretor da ANIP, o setor de pneus reformados é complementar ao de pneus
novos, e ambos buscam atender à demanda nacional. – Não somos contrários às
empresas de reforma nem pretendemos fechar suas fábricas. Queremos apenas uma
concorrência saudável e justa. Consideramos que a importação de pneus usados é
um desserviço ao País, na medida em que teremos que destruir esses pneus mais
tarde e, principalmente, porque temos no Brasil pneus suficientes para serem
reformados-, conclui. (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, 22/12)