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2005-12-26
Quando foi declarado que os recentes relatórios de avanços na pesquisa de clonagem do dr. Hwang Woo-suk tinham sido forjados, na sexta-feira (23/12), sua desgraça deixou os cientistas se perguntando como ele ascendeu tão rapidamente, enganou a tantos e levou um tombo tão grande.
Hwang, um médico-veterinário sul-coreano que escalou ao pináculo da visibilidade internacional com suas pesquisas sobre a clonagem e as células-tronco, levou consigo na queda mais do que sua própria reputação.
O governo sul-coreano, que promoveu Hwang como um herói nacional e uma celebridade internacional, viu seu investimento ser desperdiçado. As importantes revistas científicas que disputavam a publicação do trabalho de Hwang estão reexaminando seus procedimentos de avaliação. E apesar do laboratório de Hwang ser apenas um dos muitos trabalhando em pesquisa de célula-tronco, a impressão geral que ele criou de que o sucesso na clonagem terapêutica era iminente agora pode ser visto como apoiado em alegações falsas.

Barriga da Science
A comissão de investigação montada pela Universidade Nacional de Seul disse em um relatório provisório, divulgado na sexta-feira, que Hwang falsificou dados em 9 das 11 colônias de células-tronco embrionárias derivadas de pacientes que relatou na revista Science em junho. Quanto às duas colônias restantes, o comitê ainda não sabe se foram derivadas de pacientes, como disse Hwang, ou de óvulos humanos fertilizados.
Além disso, a principal premissa do artigo de Hwang, a de que poderia realizar clonagem humana de forma bastante eficiente, com apenas poucos óvulos humanos, era falsa. O comitê disse que ele usou bem mais óvulos do que relatou.
A comissão também está analisando a alegação de Hwang, de 2004, de ter sido o primeiro a clonar células humanas. Se isto também provar ser falso, a meta da clonagem terapêutica --reparar as células dos pacientes com seus próprios tecidos-- poderá se mostrar consideravelmente mais distante do que parecia há poucos meses.

Pergunta que fica
Como Hwang conseguiu ascender tão rapidamente no firmamento científico e convencer tantos especialistas importantes de que seu trabalho era sério? Sua ascensão atraiu um apoio generoso do governo sul-coreano, e a compartimentalização de seu laboratório fazia com que poucas pessoas tivessem uma visão geral do que estava acontecendo. O relato de avanços plausíveis fazia com que os cientistas no exterior sentissem, também, que poderiam conseguir o mesmo caso tivessem o acesso a tantos óvulos humanos quanto os obtidos por Hwang.
Além disso, Hwang convidou pesquisadores americanos de renome para serem co-autores de seus artigos, o que ele pode ter achado que tornaria seus resultados mais aceitáveis para importantes revistas como Science e Nature. Ele até mesmo convidou o dr. Gerald Schatten, um especialista em célula-tronco da Universidade de Pittsburgh, para ser o autor principal de um relatório de junho de 2005, apesar de Schatten não ter participado de nenhuma experiência. Mas Donald Kennedy, o editor da Science, disse que a inclusão de co-autores americanos certamente não nos afetou.
O ponto de partida para a ascensão de Hwang à fama foi sua habilidade em fazer o sistema sul-coreano trabalhar para ele. O governo investiu cerca de US$ 65 milhões em sua pesquisa antes do colapso, e o Ministério da Ciência e Tecnologia o aclamou como Cientista Coreano Ilustre.

Lobby dos clones
O Ministério da Saúde e do Bem-Estar Social prometeu fornecer US$ 15 milhões no próximo ano para a criação do Centro Mundial de Célula-Tronco, no qual técnicos de Hwang clonariam células humanas para clientes científicos no exterior.
Uma indicação dos bons contatos de Hwang com o governo foi a inclusão da dra. Park Ky-young como co-autora de seu relatório de 2004 sobre clonagem humana. Uma botânica por formação, Park pode não ter contribuído muito cientificamente à tarefa de clonagem de células humanas. Mas ela é a consultora de ciência de Roh Moo-hyun, o presidente da Coréia do Sul.
Os freqüentes visitantes americanos à crescente operação de Hwang ficavam impressionados com a escala e perícia de sua operação e em como ele dividia seus cientistas em forças-tarefas especializadas em cada passo do processo de clonagem. Mas esta compartimentalização pode ter significado que nem todos os seus colegas de trabalho tinham conhecimento do que estava ocorrendo. Poucos pareciam ter visto as colônias de células embrionárias que Hwang dizia ter clonado de pacientes.
Fora da Coréia do Sul, o desastre deixou um sabor amargo nos cientistas que confiaram no trabalho de Hwang. - É uma coisa triste, disse Kennedy, o editor da Science. - Nós sentimos que este não é nosso melhor dia.
A Science e a Nature, duas importantes revistas científicas que competem pela publicação de avanços científicos notáveis, aceitaram os relatórios de Hwang. Mas a Science agora está revendo a precisão dos artigos de 2004 e 2005, nos quais Hwang disse ter clonado células humanas, e a Nature está revendo sua alegação de ter clonado um cão, que ele batizou de Snuppy.
- Nós estamos investigando o trabalho sobre Snuppy e investigaremos se nós e os juizes agimos apropriadamente, e se as normas devem mudar, disse o dr. Philip Campbell, o editor da Nature. Uma questão que ambas as revistas têm considerado é se seus editores e avaliadores deviam ter percebido os erros nos trabalhos de Hwang antes da publicação. Mas como em casos anteriores de fraude, os editores das revistas e outros cientistas afirmam que seu sistema depende basicamente de confiança e que os avaliadores podem checar apenas se as conclusões do relatório seguem os dados apresentados.

aceitando a boa fé
- A revisão de pares não visa descobrir fraude, disse Campbell. - Ela visa fornecer avaliação de especialistas da credibilidade científica e confiabilidade do que os cientistas estão relatando, aceitando o relatório em si de boa fé.
Kennedy notou que as revistas freqüentemente publicam artigos que posteriormente são mostrados como estando inocentemente errados. - O público precisa entender que as revistas e a revisão de pares não são perfeitas.
Mas os analistas podem recomendar que o autor forneça mais dados a qualquer momento caso estejam insatisfeitos. Os avaliadores da Science pediram a Hwang que fornecesse impressões de DNA mostrando que cada uma de suas colônias de células-tronco embrionárias apresentava o mesmo DNA do paciente das quais supostamente foram derivadas. Hwang enviou pares de impressões, algumas das quais contendo o mesmo ruído de fundo, sugerindo que a mesma impressão tinha sido apresentada duas vezes. Mas esta anomalia foi notada apenas posteriormente pelos críticos de Hwang.
Os analistas da Nature não pediram a Hwang que fornecesse evidência provando que Snuppy tinha sido clonado de outro cão. Campbell disse que a Nature, como parte de sua investigação do artigo, considerará sobre se seus padrões de prova deverão ser mudados no futuro.
O fracasso de Hwang poderá ter repercussões na posição da ciência sul-coreana. - Claramente, a credibilidade científica dos investigadores coreanos foi comprometida, disse o dr. John Gearhart, um pesquisador de célula-tronco da Universidade Johns Hopkins e membro da comissão de avaliação da Science. Ele se referiu ao fato de fotos duplicadas e identificadas erroneamente terem aparecido em artigos de outros autores sul-coreanos além de Hwang. (New York Times 25/12/2005)

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