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2005-12-26
Daniel Guaramac é um dos pais de família que teve que abandonar sua terra em um cantão de Shushufindi, no Equador, por conseqüência da contaminação causada pela extração de petróleo na Estação Aguarico da companhia Texaco, de 74 a 1990. Seus oito filhos e esposa sofrem de enfermidades da contaminação por petróleo cru e pelas águas de formação. Feridas na pele, problemas estomacais, cardíacos, dores de cabeça. Sua esposa já teve quatro abortos e um filho falecido aos cinco anos. Luciano Vicente caminhava pela beira do riacho quando caiu, ingerindo um pouco de petróleo cru, depois de seis meses doente, faleceu.

Do paraíso ao inferno
Em seu terreno semeava mamão, criava porcos. Perdeu 10 cabeças de gado, 10 cavalos, algumas centenas de galinhas. O café que semeava não produz mais. Há seis anos, Daniel vendeu sua terra e mudou-se para Guayaquil. Mas na cidade, onde está vivendo com a família, não consegue trabalho. Reclama da insegurança, das quadrilhas que perturbam seus filhos. Vive em uma casa que não concluiu por falta de recursos. Até hoje não se acostuma à vida urbana. - Allá hasta la agua tengo que comprar, U$0,80 lo galón de agua.
Antes de sair de Shushufindi trabalhava na empresa OKC, que pertencia a ChevronTexaco, de auxiliar de cozinha. Um dia chegando em casa, seu terreno estava tomado pelo petróleo. Teve que nadar até a porta, segurando a comida que trazia acima da cabeça. - Yo pensé que mi esposa estaba ahogada en el crudo, pero no, estaba bien. Não pôde ir trabalhar durante cinco dias, ilhado dentro de sua casa. Quando chegou à empresa, já estava despedido. - Yo no quiero molestar, para dijeren que yo estoy haciendo de la vida amarga a las compañías, yo solamente estoy pediendo derecho a mi trabajo. Afirma que em nenhum momento a empresa fez recomendações sobre os males que causariam a contaminação.

Mirando só dinheiro
Wuilmo Moreto, 36 anos, é professor em uma escola na margem do Rio Napo. Faz dez anos que sofre pela contaminação. Também teve que sair da região em busca de trabalho. A pele está muito sensível por tantos medicamentos. - Cualquier cosa que me toca, lastima, conta. Todo tratamento é financiado por ele, mais da metade do salário mensal gasto em medicamentos. - Aqui no hay ningún medida de prevención, porque nadie hace nada por nadie, so se vela por el dinero, por el petróleo.
Alberto Mendonza, 35 anos, quando chegou ao cantão de Shushufindi era criança, não sabia da Texaco. Afirma que caminhava pelos rios que eram puro cru. Os pescados e outros animais morriam. Toda sua família trabalhava com agricultura, mas hoje nada produz. - Mi hijos, como son míos, siempre hay cuidado, no dejar sueltos, brincar en cualquier lugar, tiengo que privar-los de la libertad que teníamos, porque acaban se contaminando.
Carmen Perez, de 24 anos, também trabalhava com agricultura, pescava e caçava alguns animais na mata. - Hoy no hay de donde subsistir. O que nos han dejado é el prejuicio, las contaminaciones y que ellos dicen que no esta contaminado el oriente. Pero ustedes poden ver que estamos todos contaminados con enfermedades. No tenemos donde acudirnos, porque no hay remedio para las enfermedades que hay aquí en el oriente.
Hoje, as poucas pessoas que continuam vivendo ali, bebem água de poços artesianos. Mas, ainda não há análises que prove que é boa para o consumo.

O Juízo do Século
A estação Aguarico está localizada no campo Aguarico no cantão Shushufindi, província de Sucumbíos, Equador. A estação foi construída e operada pela Texaco desde o ano 1974 até 1990. Esta estação separava o óleo cru da água de formação e gás, em um total de 10 poços. Segundo a Frente de Defesa da Amazônia (FDA), no período de 74 até 1990. Texaco extraiu mais de 47 milhões de barris de cru, quase 12 milhões de água de formação e queimou ao ar livre cerca de 10 milhões de pés cúbicos de gás. A água de formação, altamente tóxica, vertia diretamente a riachos que desembocam no rio Aguarico, que atravessa o território habitado pelas comunidades indígenas Siona y Secoya, que hoje sofrem de enfermidades.
Este rio é a única fonte de água para consumo das pessoas, animais e plantações. Estas populações tiveram seu território reduzido, mudaram seus costumes de vida e de alimentação.
As comunidades Siona, Secoya e Colonos da região entraram com um processo judicial contra a companhia estadunidense ChevronTexaco. Pelo Juicio del Siglo, desde 1992 ambas partes vêm fazendo inspeções técnicas em alguns locais da região. No total serão 123 pontos inspecionados. Até agora 100% das analises químicas das amostras inspecionadas, mostraram índices de contaminação que violam as leis nacional e internacional. (Por Eduardo Seidl, Jornal JA, 25/12/05)

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