Alimentos orgânicos: solução ou ameaça?
2005-12-26
No momento em que o governo federal incentiva o consumo dos chamados alimentos
orgânicos, o público precisa saber qual realmente é o benefício (ou problema) que
esse tipo de produto pode oferecer.
Vendidos pela mídia como extremamente saudáveis, os produtos orgânicos ainda não
possuem a certificação de um órgão governamental competente para garantir sua
procedência. Dessa forma, tudo pode ser considerado como produto orgânico
seguindo, principalmente, a linha que está mais preocupada com a forma como se
produz do que com a qualidade do produto.
Vive-se a fase em que está sendo discutido no Ministério da Agricultura e nos
segmentos envolvidos na produção orgânica, o que se pode definir e quais serão
as normas para um produto ser considerado orgânico. Hoje, todo produto que não
recebe agrotóxicos já ganha essa denominação. Assim, acabam passando a idéia de
que são saudáveis, sem que os consumidores sejam alertados sobre a real situação
desses alimentos.
A maioria das empresas de orgânicos tem pouca ou nenhuma preocupação com a saúde
pública. Nada comprova cientificamente que os alimentos comercializados com a
denominação de orgânicos têm a qualidade necessária para o consumo humano.
Os maiores problemas dos orgânicos estão relacionados com as folhagens. Nessas,
como não existe adição de produtos químicos, costuma haver excesso de coliformes
fecais – bactérias que podem causar problemas de saúde ao consumidor. Isso sem
citar que, caso a pessoa que ingerir o alimento tenha alguma patologia ou se
for criança, gestante ou idoso, os problemas podem ser ainda mais graves.
Justamente esses mais suscetíveis às bactérias acabam sendo o público alvo das
campanhas de incentivo ao consumo dos orgânicos.
Para que o produto orgânico não faça mal à saúde, os produtores deveriam fazer
análise do solo, da água e dos folhosos para controlar o número de coliformes. Em
casa, o caminho é realizar a higienização segundo as normas da vigilância
sanitária: lavar folha a folha em água corrente; colocar essas folhagens em
recipiente com água, cloro e vinagre (para cada litro de água, deve ser
acrescentada uma colher de sopa de vinagre e deixar por mais 10 minutos). Só
então está pronto para o consumo humano.
É preciso ainda ficar claro que os caminhos de produção puramente orgânica ou
convencional (com o uso de insumos químicos) apresentam falhas e problemas
comuns a tudo o que segue os pólos muito extremos. O que pode ser uma grande
lição para os produtores convencionais é que existem maneiras diferentes de se
conseguir os resultados desejados no controle de pragas e doenças. Já para os
produtores orgânicos fica a possibilidade de manejo racional oferecido pelos
novos produtos, onde o foco de controle é bem definido, reduzindo o impacto
ambiental e possibilitando uma resposta eficiente aos desafios de produção em
escala.
O foco é o equilíbrio. Afinal, todos os processos possuem falhas. O importante
é que o consumidor as conheça e saiba se precaver de qualquer tipo de situação,
seja com os orgânicos ou com qualquer outro produto. E que ele não seja enganado
por falsas promessas de benefícios, pois é a sua saúde que está em jogo.
(Adriana Gomes, GM, 23/12)