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2005-12-23
Reutilização da água nas indústrias É fato que a água potável está cada vez mais escassa no mundo. Há quem diga que ela será o grande motivo das guerras no século XXI. A Unesco considera a crescente falta dágua como o problema ambiental mais grave do terceiro milênio. A água é o líquido da vida e, são diversos os seus usos, tais como abastecimento à população, diluição de esgoto industrial e doméstico e irrigação de lavouras. Muitos são os motivos que agravam esta preocupante situação, mas dois são fundamentais: o uso excessivo da água e a poluição dos recursos hídricos.

Ambos podem ser combatidos se houver um maior acesso à informação por parte da população e das indústrias. Em Porto Alegre, essa poluição é causada também pela forte concentração de indústrias na capital e cidades vizinhas. Quem sofre as conseqüências são as comunidades abastecidas pela Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba.

Neste aspecto, programas como o Pró-Guaíba, concebido em 1989, são exemplos de o quanto é caro investir na recuperação destas águas. Na primeira parte do projeto, foram gastos mais de US$ 220 milhões. Mais US$ 500 milhões estavam previstos para a segunda parte, iniciada no segundo semestre de 2002. O programa contempla projetos de tratamento de esgoto, resíduos sólidos, educação ambiental, monitoramento, parques e reservas, treinamento de recursos humanos, sistema de informações geográficas, plano diretor, agroecologia e reflorestamento ambiental.

Nas indústrias, uma medida mais drástica para diminuir o consumo de água é a possibilidade de haver uma cobrança pelo uso do recurso. Em seu trabalho de pesquisa sobre o Consumidor Industrial, a doutora da Unicamp, Gabriela de Oliveira Paula, descobriu que as empresas locais estavam economizando. O motivo: cobrança pelo uso da água. Assim, a preocupação econômica gerou medidas mais rápidas e enérgicas por parte dos empresários, beneficiando o meio ambiente. A cobrança não se dará somente sobre a água captada pelas indústrias, mas também pela água tratada por elas. Segundo a pesquisadora, as indústrias tratam a água suja, resfriam e reutilizam a mesma, ou seja, não a deixam evaporar , em um sistema denominado circuito fechado.

Preservação de recursos naturais que gera economia
A preocupação crescente do setor secundário com relação à gestão da água nas indústrias fez com que muitas implantassem sistemas visando a racionalização no uso, o que inclui uma modificação nos próprios processos produtivos, escolha de métodos adequados para o reuso e o despejo dágua, além de instrução aos funcionários para que evitem desperdícios. Várias palestras, cursos, seminários e workshops têm ocorrido ultimamente tratando deste assunto, que poderá ser vital para a própria sobrevivência econômica das indústrias num futuro próximo.

Entre as empresas que passaram a adotar um sistema para racionalizar o uso da água, podemos citar a Coca-Cola, que, através do programa Água Limpa estabeleceu várias medidas de conservação dos recursos hídricos, estimulando as fábricas a desenvolverem projetos que possibilitem reduzir o consumo de água e a minimizar as descargas de efluentes . Cerca de 92% dos fabricantes do refrigerante já têm estações de tratamento de efluentes e, além disso, foi desenvolvido um manual de gerenciamento de águas subterrâneas, além de incentivos a projetos de utilização de água da chuva. A empresa reforça esta postura pelo fato de a água ser a maior matéria-prima disponível para a fabricação dos refrigerantes. O gerenciamento da água que é praticado na empresa elimina os pontos de desperdício e ainda explora menos os recursos hídricos. Eis um bom exemplo a ser seguido. O consumo de água para cada litro de refrigerante produzido antes do programa era de 5,5 litros. Após a implantação do projeto, o consumo baixou para 2,26 litros, gerando uma economia média de 10% a 20% nas fábricas com o gerenciamento do sistema.

Outra empresa que investiu no gerenciamento da água foi a Florestal. Foi dado a ela o certificado ISO 14001, pela economia de material, reciclagem de materiais e pela redução do consumo de água, além da devolução à natureza de efluentes tratados com as mesmas condições em que foram recebidos. Em 2002 e 2003, a empresa investiu cerca de R$ 330 mil em gestão ambiental. A Neugebauer, empresa vinculada à Florestal, investiu cerca de R$ 130 mil na preservação do meio ambiente. Além disso, as duas empresas estão envolvidas na Fundação Pró-Rio Taquari, que visa à preservação deste importante curso de água na região do Vale do Taquari.

Na visão destas empresas, trata-se de um investimento necessário, pois previne o desperdício de água. Essa questão, antes desconsiderada, agora é vital para as indústrias, pois interfere diretamente nos custos e na margem de lucro. (Revista Oca, Ufrgs, 15/12)

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