Montanhas de resíduos tóxicos pedem atenção na Louisiana
2005-12-22
Há tanto entulho no Estado norte-americano da Louisiana, depois da passagem dos furacões Katrina, no final de agosto, e Rita, em setembro deste ano, que muitas dessas montanhas de lixo tóxico ainda precisam ser novamente destruídas. Trabalhadores com roupas e equipamentos de proteção inspecionam esses locais cheios de resíduos tóxicos, onde, na semana passada, houve reclamações num sítio perto de Buras e de um dique do Rio Mississippi. Os detritos incluem pilhas de materiais eletrônicos descartados.
Imensas escavadoras mecânicas trabalham intensamente para reduzir o volume dos rejeitos. Elas transformam as misturas disformes de materiais em algo irreconhecível. O volume de resíduos pode ser reduzido em até dois terços do tamanho original. Este trabalho faz parte do esforço do Corpo de Engenheiro das Forças Armadas para que os principais aterros do Estado possam comportar uma imensurável quantidade de resíduos de construção civil e outros que estão abandonados desde que foram gerados com a passagem dos furacões.
A operação de aniquilação, como está sendo chamada, é apenas uma das formas encontradas pelas agências governamentais, contratantes e organizações privadas para tentar acabar com os enormes passivos trazidos pelos furacões. No sul da Louisiana, a destruição, a mitigação e a restauração são um pano de fundo para a miséria e a esperança. Muito dos esforços de recuperação são financiados pela Agência Federal de Gerenciamento de Emergências e pelo Corpo de Engenheiros das Forças Armadas, além da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e contratados do setor privado.
Os caminhões que transportam entulhos são enormes e ainda há muitas localidades que precisam de serviços de remoção de casas das quais sobraram apenas ruínas. Na localidade de Plaquemines Parish, por exemplo, o trabalho de remoção não deve começar antes de janeiro próximo.
Os contratados estimam já ter disposto mais de seis mil quilos de resíduos tóxicos, e os trabalhadores dizem que isto é só o começo. Já foram destruídos restos de 222 mil refrigeradores, máquinas de lavar e secar roupas, e mais de um milhão de contêineres com resíduos perigosos foram retirados da terra e das águas na Louisiana.
Segundo Sid Falk, gerente de operações na área, o volume total de entulhos de construção gerado pelos dois furacões chega a 44 milhões de jardas cúbicas. Comparativamente ao que aconteceu em 1992, após a passagem do furacão Andrew, até então considerado o mais destrutivo furacão dos Estados Unidos, – nós basicamente tivemos três Andrews–, analisa Falk.
Bill Hurlbut, cientista da EPA que gerencia um grupo de resíduos tóxicos, disse que, três meses após a passagem do Katrina, o cenário ainda parece como algo colocado em uma batedeira e atirado para cima.
Hurlbut é um dos gerentes de resíduos tóxicos perto de Buras, uma localidade espremida entre uma escola e um campo de futebol e a represa do Rio Mississipi. A localidade fica a poucas milhas da Rodovia 23, que liga as áreas pantanosas do sul da península ao Golfo do México.
Sem esses esforços para reunir os resíduos tóxicos, os danos causados pelos furacões continuariam: os poluentes não coletados em aterros possivelmente se espalhariam pelo solo e pela água.
A Guarda Costeira utiliza escavadores especiais para áreas pantanosas, permitindo retirar lixo desses locais. O que era uma vez o campo aberto histórico perto de Fort Jackson e do rio, a partir de Bayou Mardi Gras, agora junta-se com 55 grandes caixas e tanques de resíduos. Muito desse lixo veio de áreas que sofreram deslizamento ou flutuaram a partir de sítios industriais. – O oceano os expele mais tarde–, explica Hurlbut.
Grandes tanques retornam aos seus donos, e o petróleo vai para as refinarias para ser reciclado. Os resíduos vêm de todo lugar: de áreas perfuradas, de sítios industriais, de casas, de hospitais. Há combustível, lubrificantes, pesticidas, solventes, resíduos médicos, tintas, resíduos misteriosos que obrigam os trabalhadores a utilizarem máscaras de proteção respiratória e a retirarem amostras para análise.
Apesar da devastação, podem ser vistos sinais de renovação: esforços para proteger o meio ambiente de danos futuros e mesmo para melhorar as condições do entorno. Nesta manhã de quarta-feira (21/12), agentes federais e estaduais, incluindo o administrador da EPA, Stephen L. Johnson, reuniram-se com representantes de organizações privadas para destinar 5 mil acres de áreas restauradas para Pointe-aux-Chenes, uma localidade ao sul da Louisiana, na cidade de Houma.
O projeto tem por objetivo criar condições para a vida natural existente antes dos desastres no entorno do Rio Mississipi, que abastece a população da Louisiana. (Fonte: The New York Times, 20/12)