Doutorando da UnB desenvolve técnica que usa sobras de minério na construção de estradas de ferro
2005-12-21
A mineração é atualmente considerada uma atividade fundamental para o crescimento econômico e social de países no mundo inteiro. No Brasil, segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a produção de minério de ferro – uma das mais relevantes no setor – chega a 187,9 milhões de toneladas por ano. No entanto, os resíduos produzidos durante a extração mineral, se não receberem destinação adequada, podem provocar danos irreversíveis ao meio ambiente. Foi pensando num modo de reaproveitar esse material que Gilberto Fernandes, aluno de doutorado da Universidade de Brasília (UnB), apresentou a tese Comportamento de Estrutura de Pavimentos Ferroviários com Utilização de Solos Finos e Resíduos de Mineração de Ferro Associados à Geossintéticos e desenvolveu uma técnica inédita que usa as sobras do minério – um pó fino conhecido como rejeito – na construção de estradas de ferro.
Fernandes vê na técnica inédita uma forma de preservar o meio ambiente A técnica custa cinco vezes menos que a tradicional e substitui o uso do cascalho e da brita – matérias-primas essenciais na construção de pavimentos para ferrovias – por uma mistura de rejeito e material sintético semelhante ao plástico.
— Além dar destino para um material que antes não tinha nenhuma serventia, a técnica evita a degradação ambiental provocada pela exploração desordenada de jazidas e pedreiras - comemora o pesquisador da UnB.
Morador de Ouro Preto, em Minas Gerais, Fernandes conta que a idéia para o projeto surgiu por causa de uma demanda da cidade, que fica na região de um quadrilátero ferrífero.
— As dificuldades enfrentadas pelas mineradoras na hora de se livrarem dos rejeitos me chamava atenção e a manutenção das ferrovias tem um custo muito alto. Então, decidi pensar em algo que resolvesse os dois problemas - explica ele, que veio para a UnB como bolsista da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
PARCERIA - Para viabilizar o projeto – que durou dois anos até ser concluído - Fernandes contou com o apoio da Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do país, que cedeu um trecho da ferrovia que liga Vitória a Minas Gerais para que a técnica fosse testada.
— O resultado desse trabalho mostra que as parcerias público-privadas são fundamentais para que o país possa desenvolver tecnologias alternativas que diminuam o uso de recursos naturais - diz o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC) Ennio Marques Palmeira, orientador do projeto.
Depois de testada e aprovada, a técnica foi adotada pela Vale do Rio Doce e ainda recebeu menção honrosa no Prêmio Santander Banespa de Ciência e Inovação, promovido pelo Banco Santander Banespa em parceria com o Portal Universia Brasil. A tese concorreu com outros quatro mil trabalhos científicos e ficou em segundo lugar na categoria Indústria.
— A nossa intenção é incentivar iniciativas como essa, que podem ajudar a promover o desenvolvimento sustentável no país - garante a diretora-geral do portal Universia, Maria Voivodic.
Para Fernandes, o prêmio é uma grande oportunidade de divulgação.
— Podemos inserir essa técnica em várias partes e segmentos do país. E os benefícios vão para a sociedade, que poderá contar com uma qualidade de vida melhor no futuro - aposta ele. A exposição obtida com o prêmio já trouxe resultados. A técnica está sendo testada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER) de Minas Gerais na construção de um trecho da rodovia que liga as cidades de Itabira e Senhora do Carmo.
MINÉRIO DE FERRO - O Brasil tem uma das maiores reservas mundiais de minério de ferro, o mineral mais produzido e consumido no planeta. No país, o mercado de ferro movimentou cerca de R$ 2,5 bilhões em 2004, segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral. O metal é abundante no mundo, porém as jazidas concentram-se em poucos países, sendo que apenas cinco detêm 77% das ocorrências totais. O Brasil possui 8,3% das reservas totais, a quinta maior do mundo, equivalente a 17 bilhões de toneladas. As reservas do Brasil e da Austrália apresentam o maior teor de ferro contido, da ordem de 60%. (UnB - Universidade de Brasília, 19/12)