Poluição aumenta a presença de algas no Guaíba
2005-12-21
Desde 2002, quando o verão se aproxima, em função do aumento das temperaturas e
diminuição das chuvas, os porto-alegrenses enfrentam problemas no abastecimento
de água. O baixo nível do Guaíba, aliado ao excesso de poluição e à concentração
de nutrientes, além da forte luminosidade solar, são fatores que facilitam a
proliferação de algas. O resultado é sentido nas torneiras: um líquido de cor
mais escura, gosto de terra e mal-cheiroso. Mesmo com essas condições, o
Departamento Municipal de Água e Esgotos – Dmae, sempre garantiu a qualidade
desse bem essencial. Porém, com o início de mais um verão, a repetição do
fenômeno já preocupa a população da capital.
Durante o ano de 2005, o Dmae testou novas formas de tratamento da água captada
do Guaíba. O objetivo foi reduzir os efeitos das algas na qualidade do produto
distribuído aos consumidores. De qualquer forma, essa iniciativa pode não ser
suficiente, já que o desenvolvimento das cianofíceas no lago depende de diversos
fatores e o uso de carvão ativado no tratamento, além de outras técnicas, é
apenas um paliativo. Segundo o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas –
IPH, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Luiz Fernando Cybis,
o ideal seria o investimento em prevenção a médio e longo prazo. Na opinião do
professor, a situação deve piorar nos próximos anos. – Não podemos interferir na
quantidade de chuvas, mas há como eliminar o número de nutrientes que propiciam
a proliferação das algas-. Entre as possíveis medidas, estariam técnicas
agrícolas que percam menos adubo durante a drenagem e a remoção dos nutrientes
dos esgotos cloacais.
A baixa qualidade da água também envolve uma questão de saúde pública. Durante o
verão passado, o consumo de água mineral aumentou 50%, segundo os fabricantes.
Quem não tem condições ou não quer comprá-la, pode optar pela filtragem da água
distribuída pelo Dmae ou por fontes naturais. Porém, em várias destas fontes, a
Secretaria Municipal de Saúde foi obrigada a colocar alerta em função da
constatada a contaminação por coliformes fecais, o que pode provocar doenças
como hepatite A e diarréia. Coincidentemente, as gastroenterites lotaram as
emergências de diversos hospitais durante o verão passado.
As chances das algas tomarem conta das águas do Guaíba já no começo deste verão
são grandes. O calor que já se apresenta e a crescente poluição – causada pela
falta de tratamento do esgoto, só realizado em 27% da cidade – são indícios
bastante claros da iminência das dificuldades vindouras. Enquanto essas
pendências não são solucionadas, seguem os apelos à população fazer a sua parte
e evitar o desperdício.
Neste período é recomendado que se evite lavar calçadas ou carros com mangueiras,
tomar banhos demorados ou deixar torneiras pingando. O Dmae ainda alerta que um
chuveiro aberto por 15 minutos gasta 60 litros, enquanto lavar um automóvel por
25 minutos com uma mangueira desperdiça outros 100 litros. Uma torneira
gotejando perde 46 litros ao final do dia, com um fio de água correndo, 2 mil
litros, e jorrando, outros 34 mil litros. Soluções simples são incentivadas,
como manter a torneira fechada enquanto se escova os dentes ou lava a louça,
usar baldes ao invés de mangueiras para lavar calçadas e carros, não molhar
plantas em horário de sol forte quando há uma absorção menor em função da
evaporação mais rápida água. As recomendações ainda englobam alertas a vizinhos
e parentes sobre o mau uso da água, buscando disseminar a conscientização e
evitar problemas mais graves no futuro. (Revista Oca, Ufrgs, 15/12)