Australiano, o eucalipto adora o sudeste
2005-12-20
Pouco menos de meio século atrás Santos e Botafogo eram os melhores times do Brasil, os Beatles invadiam as rádios do planeta e o País vivia a efervescência da industrialização. Na mesma época, o empresário Max Feffer resolveu iniciar uma dúzia de experimentos com o eucalipto, uma planta australiana que se mostrava bem aclimatada ao solo brasileiro. E o objetivo era claro. Feffer, membro da família controladora do Grupo Suzano, queria produzir papel a partir da fibra dessa árvore.
Hoje, não resta a menor dúvida que a idéia de Feffer germinou e cresceu saudável. Sim, porque o Brasil não apenas se tornou o maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, como virou referência no assunto. E, apesar da Região Sudeste ter ganhado fama com a chegada da indústria automotiva, foi no interior paulista que a idéia encontrou terreno fértil. E, hoje, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo respondem por 60% das 9,6 milhões de toneladas de celulose produzidas no País e por 52% das 8,5 milhões de toneladas de todos os tipos de papel fabricados por aqui. Um resultado nada mal para quem há 40 anos não tinha sequer um pé plantado.
A história fica melhor ainda para a Região Sudeste quando se analisam os demais indicadores do setor. Por exemplo, dos 108 mil empregos diretos que essa indústria gera no Brasil, 50% estão nos quatro Estados da Região. Do faturamento de R$ 23,1 bilhões obtido no ano passado, o Sudeste responde por pouco mais de R$ 13 bilhões. E, das exportações de US$ 2,9 bilhões feitas por esse setor da economia, metade tem o carimbo das unidades alocadas neste pedaço do Brasil.
Só que, para transformar, em realidade esse punhado de cifras, a indústria precisou abrir o cofre na região. Na última década, entre 1992 e 2003, o setor aplicou US$ 12 bilhões no País. E apesar de ser difícil estabelecer um número exato, é possível calcular que pelo menos US$ 7 bilhões tiveram como destino a região Sudeste.
Só a Aracruz, instalada no Estado do Espírito Santo e considerada a maior empresa produtora de celulose de eucalipto do mundo, investiu US$ 800 milhões para acrescentar 1 milhão de toneladas à sua produção em 2002 - o que representou dobrar a capacidade.
E não pára por aí. O setor é habituado a investimentos gigantescos e, como ganha cada vez mais espaço no cenário internacional, por conta de seus competitivos custos de produção e do rápido crescimento do eucalipto em solo verde-amarelo (7 anos contra 21 anos do pinus na Europa), a indústria já anunciou que vai desembolsar mais uma montanha de recursos entre 2003 e 2014. A saber: US$ 14 bilhões.
É fato, porém, que boa parte dessa bolada seguirá para projetos em outros Estados, mas o Sudeste, mesmo assim, ficará com significativa parcela. Estima-se que pelo menos 40% desse montante estará restrito a esta região.
Duplicação
E dentro dessa perspectiva há duplicações de produção à vista, como é o caso da Cenibra. Instalada em Minas Gerais, a companhia, que é controlada pelo consórcio japonês Japan Brazil Paper and Pulp (JBP), pretende investir US$ 1 bilhão entre 2004 e 2012. Com esse volume de recursos, sua capacidade anual vai pular das atuais 960 mil para 1,920 milhão de toneladas.
O projeto dos japoneses não é o único. No ano passado mesmo, a Suzano e a Votorantim Celulose e Papel (VCP) decidiram pagar US$ 720 milhões pela Ripasa, companhia que tem fábricas em Limeira (SP), Cubatão (SP) e Embu das Artes (SP). O negócio movimentou o setor e havia despertado até o interesse de gigantes como a sueco-finlandesa Stora Enso.
Independentemente dessa aquisição, tanto VCP como Suzano não se limitaram a esta tacada. A primeira, por exemplo, aplicou US$ 500 milhões entre o fim de 2003 e meados de 2004 para alcançar a produção de 1 milhão de toneladas de celulose na fábrica de Jacareí (SP).
Já a Suzano aplicou R$ 374 milhões em 2003 e mais R$ 209 milhões em 2004 nas suas duas fábricas paulistas. A Klabin é outra que também não assiste parada ao movimento das rivais e investiu R$ 138 milhões nas operações do Sudeste, como de Angatuba (SP) e Ponte Nova (MG). (O Estado de S. Paulo, 15/12)